NO PALÁCIO DO CATETE
-- A desordem campeia nossas ruas. Só com demissões
no ministério podemos pôr fim no conflito e evitar resoluções piores.
-- Interpreta mal os acontecimentos, general, diz
Rodrigues Alves a Olímpio da Silveira. -- O governo dispõe de forças para
acabar com qualquer agressão armada. Certo que lamentarei mais sangue
derramado. Mas não hesitarei em lutar contra tropas cuja frente se coloque
imprudentemente um general do exército.
-- Entendido, excelência. Peço licença para me
retirar.
Tão logo Olímpio sai, o presidente se reúne com o
ministro da Guerra. Theodoro aguarda, na antessala, inquieto também por não ter
notícias do solar.
Valentin aparece no portão dos fundos do Palácio. Quer
entrar, mas é impedido. Por medida de precaução, visitas foram canceladas e o
acesso permitido apenas a pessoas autorizadas. Entende a proibição como uma
armação do seu desafeto e se desestabiliza. Agarra-se ao gradil.
-- Theodoro! Dê as caras!
A altercação tira o fiscal da segurança de dentro da
Casa da Guarda. Os trajes elegantes do exaltado o nome gritado lhe inspiram uma
ação diplomática. Vencido na sua tentativa de persuadir o adiamento da visita,
pergunta a quem deve anunciar.
-- O pai do filho dele.
O inusitado da identidade subverte as normas de
segurança máxima. Entre pausas, nas quais se sorve o escândalo da paternidade
anunciada, a mensagem sobe a linha hierárquica e alcança o secretário de
governo pela voz do seu auxiliar de gabinete.
-- Quer por que quer ver o senhor e não diz coisa
com coisa.
Theodoro imagina os disparates falados e a
possibilidade do presidente ver da janela o destempero de Valentin. Sem
pestanejar, procura novamente o chefe da casa-militar. Encontra-o subindo a
escada e a sua procura.
-- Um amigo do senhor está lá fora – e muito
descontrolado.
-- Preciso que o recolha.
-- Por favor, Dr. Theodoro, me acompanhe.
Olhares de través os alcançam durante o percurso
para a área externa.
-- Como posso prender uma pessoa das suas relações?
-- Não é o que se faz com bêbados?
-- Nossas instalações são inadequadas e não posso
desguarnecer nossa segurança em tarde tão alarmante.
-- Esse sujeito é uma ameaça pública. Leve-o para o
hospício.
-- Confunde as funções do meu posto, senhor
secretário. Melhor acalmá-lo e fazer ir embora por pernas próprias.
-- Não pode entrar no Palácio.
-- Nem tumultuar o portão. Receba-o na Casa da
Guarda, enquanto eu providencio a retirada dele daqui.
-- Ordene antes a desocupação do local e alguém para
escoltá-lo até lá.
-- Dr. Theodoro, vamos dividir as tarefas?
-- O senhor é o responsável pela segurança. Com
licença.
Tipinho
intragável, fala entre dentes o general
vendo-o se afastar.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema
e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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