HERMOSA PERO TONTITA.
Diante
de Ninon de Valoir e em meio do luxo do ambiente, Mariinha é uma estátua viva,
palpitante de coragem e receios com relação ao passo que está prestes a dar.
Nem se mexe quando Abel Adonis sai do aposento. Soledad, a responsável pela
governança feminina da Casa Rosada, fecha a porta e se posta atrás da poltrona
ocupada por Ninon, que se mostra amável com a moça.
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Sente-se Mariinha.
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Se não se importa, senhora, pode me chamar de Margot?
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Claro que posso.
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Muito agradecida. Vou sentar, viu? Dá licença.
Soledad
faz uma cara de entojo.
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Decidida a ser uma das minhas pupilas?
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Ah, sim, madame. Quero muito viver bem e ter um protetor.
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Madre mia! Que desatino!
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Soledad!
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Pero no es ni una cortesana e já está pensando em tener um protetor?!
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A senhora fala tão gozado, Dona Soledadi.
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Psiu! Aqui só se hablas cuando a senõra pergunta.
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O que conhece da arte do amor?
Encabulada,
Mariinha sorri.
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Ah! Umas coisas mais do que outras e até a beiradinha do finalmente. Sou moça
donzela ainda e quero ser deflorada pelo meu protetor.
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No lo sé, no lo sé, isso no vá a funcionar, exclama Soledad descrente de que
Mariinha dê certo no bordel, se o que mais quer é ter alguém que a proteja.
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Se quer trocar sua virgindade por uma proteção segura, melhor se casar.
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Como, dona Ninon? Se só aparece pretendente pobre ou rufião que quer ter a
minha preciosidade sem me dar o melhor. Por isso cá estou. Quero achar meu
protetor.
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Nina tonta, diz Soledad fazendo com a mão um gesto de desdém.
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Ora, por que, dona Soledadi,
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Argh! Sueños no son habas contadas.
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Como é que é?
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Sonhos não são favas contadas.
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Não posso ter aqui o mundo aos meus pés e até conhecer o amor?
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Se esmerar e a sorte ajudar... Quantos anos tem?
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Já fiz dezoito, mas digo que sou de menor. Num pareço?
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Parece. Ande um pouco pela sala para eu ver você melhor.
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Por quê? A senhora sofre das vistas?
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Ih! Hermosa pero..., exclama Soledad virando o rosto de lado.
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É só inexperiente.
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Mas aprendo tudo rapidinho.
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Então vá até ali e volte como se estivesse sendo olhada pelo seu protetor.
Quero imaginar como ele apreciará você.
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Ah! Entendi. Espera só um pouquinho.
Mariinha
suspira e o ar faceiro começa a emanar do corpo ainda sentado e depois no
molejo do movimento. Ninon analisa o andar – um tico de requebro de menos deixará no ponto. Durante a volta,
pede que tire a roupa.
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Mas, senhora?
Soledad
se aproxima.
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Não queres ser una cortesana? Hay que tirar la roupa.
Ruborizada,
Mariinha se despe e cobre o sexo com as mãos. Ninon anda ao redor segurando a
haste longa de um pincenê: magra em boas
carnes. Seios firmes, fartos; ancas
largas, traseiro saliente, pernas e pés bem feitos, só mal tratados. Mexe
nos cabelos: podem ficar sedosos.
Acaricia o rosto da moça, depois, desliza os dedos por um braço – óleos deixarão a pele macia. -- Sorria,
com todo o encanto que puder. Sorriso
maroto – produzirá bom efeito. Abra a boca – bela dentição. O que te pareces, Soledad?
--
Buena conformación.
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Erga os cabelos com as duas mãos, Margot.
Constrangida,
Mariinha obedece, e Ninon fita a pelugem da vulva – densa! Será bem apreciada, não?
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Por que te importa com isso, si a brasilenos les gusta mucho o outro lado?
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Pode se vestir, Margot.
Mariinha
levanta as peças do chão com os olhos na cortesã.
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A senhora me aceita?
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Terá casa, comida, cuidados e instrução de como se portar e na arte do amor. Se
estiver pronta, estreará na festa de Aleluia...
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Com o meu...
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Cállate e escucha!
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Se aprovada, fica na Casa e falamos sobre o pagamento.
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Sim, senhora.
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Soledad, leve Margot para o exame do Dr. Amâncio e a entregue aos cuidados de
Desirée. As aulas seguintes serão com Aimée. Veja também roupas. Providenciarei
com Reverbel, um perfume para a nossa trigueira.
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Es lo que voy a hacer. Ande, chica. Termine logo com isso, porque yo no tenho
todo el tiempo del mundo.
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Ah! Dona Soledade, se a senhora não falar direito, num vou te entender.
Enquanto
a jovem se prepara para se lançar na prostituição, Ismênia e Altino padecem as
dores do seu desparecimento, em carta de despedida lida e relida: fui embora; não se agastem, venho visitar
quando tiver com a vida ganha. O pesar é fingido em Bertoleza, que mira a feição carrancuda de Rubião com seu olhar desconfiado.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S.
Campos
Copyright
de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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