DISSABORES DE RAINHA
Os
dias se sucedem e outras cartas anônimas mantém o assunto do meretrício nas
páginas principais dos jornais. Carlota está satisfeita com os efeitos dessa permanência.
O magistrado voltou a dormir em casa e retomou o hábito de acompanhá-la à missa
dominical. Já Catarina espera provas mais concretas de que retirou o marido dos
braços de Ninon de Valoir. Caminha com Theodoro pelo corredor do solar.
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Menos um dia para a chegada do nosso neném.
-- E
mais outro de bordoadas no governo. Quanta estupidez!
--
Agosto mês de desgosto, já diziam os antigos.
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Espero que setembro seja melhor.
Param
à porta do quarto. Olham-se: a esposa anelando uma noite de amor, o marido
reconhecendo essa intenção.
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Durma bem.
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Daria tudo para tornar seu fardo mais leve.
Theodoro
tem certeza disso e de que se casou com a mais fiel tradução da sua ideia de
como seria se fosse mulher. Uma ideia que sempre lhe excitou. Tornou a esposa sua
cúmplice na realização de vários objetivos, sempre, deslocando, um pouco mais
para frente, a demarcação de até onde podia envolvê-la. No entanto, reconhece
que alcançou seu próprio limite. Teme perder o controle da situação e se tornar
um joguete dessa excitação. E há a inquietude com o corpo grávido, com tudo o
que a concepção revela e oculta e com os perigos do parto. São muitas as
apreensões. Não quer correr riscos desnecessários, justamente quando está tão
perto de ter a criança almejada.
--
Cuide para que nada aconteça ao bebê e estará me fazendo um bem enorme.
-- É o
que tenho feito todos esses meses.
--
Agora vá, deite-se e durma bem.
Beija-a na testa e se afasta ao contrário do
desejo da mulher. Porta fechada, Catarina olha para sua barriga: É, meu bebê! A vida de uma rainha tem também
dissabores.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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