MALÁRIA E SAUDADES
A
expedição evolui no caudaloso Uaupês. Há nove dias, Valentin faz o percurso
prostrado por sezões. Começou a queimar de febre tão logo embarcou e, desde
então, sua temperatura oscila. Protegido pela tolda da embarcação, balbucia
palavras inteligíveis, transpira profusamente e delira. A expedição realiza
paradas mínimas para chegar o quanto antes a São Gabriel e lhe propiciar o
conforto devido. Não há muito mais a ser feito: ou o corpo reage ou é sucumbido
de vez pela malária.
Cluny acolhe
o grupo ao entardecer. À medida que os dias passam, a intensidade dos acessos
diminui e os sinais de melhora se evidenciam. Pressionado pelos afazeres, Koch-Grünberg
se despede.
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Somou à expedição. Vamos nos manter em contato.
Sem
força e ânimo para falar, Valentin abre um sorriso raso.
Schmidt
oferece apoio.
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Procure meus pais em Manaus. Terão prazer em hospedá-lo até a sua partida.
De
novo responde com um riso frouxo e o etnólogo e o assistente partem rumo à
fazenda de Germano Garrido Y Otero, senhor da vila de São Felipe, na boca do
rio Içana. Lá organizarão a próxima etapa da expedição por outros afluentes do
rio Negro.
Valentin
sente alívio com o final do trabalho. Recorda-se da pressão vivida sete meses
atrás, quando a viagem à Amazônia era uma necessidade a ser cumprida, e a
recordação se desdobra na percepção da passagem do tempo, do presente já ser
quase um passado. Só a saudade resiste à lei da transitoriedade de tudo. Devaneia
com a ideia de ir para Manaus, despachar de lá o material da reportagem e o
excesso de peso para Paris e, com a bagagem reduzida, retornar para ver a sua
estrela maior. É o que faz . A 12 de outubro, embarca com destino ao Rio de
Janeiro.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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