DO INVESTIGADOR
Outra
visita surpreende Catarina uma semana depois. De luto e aflitas, Eudóxia e
Amelinha confirmam a participação na campanha.
-- Mas
só escrevemos umas duas ou três cartas.
-- Por
que não me contaram?
--
Carlota pediu segredo, para te poupar.
-- Então
foram vocês que escreveram aquela carta apimentada?
--
Não, pensamos que tivesse sido você.
-- Enganaram-se.
Alguém se meteu na campanha.
-- São
muitas as interessadas no combate ao meretrício.
-- Melhor
encerramos esse assunto de vez.
-- Não
podemos.
-- A
decisão já não está mais em nossas mãos.
--
Como assim?
-- Um
delegado investiga o assunto.
-- A
troco de quê se o suicídio foi confirmado?
--
Adalberto também disse isso.
Catarina
se empalidece de vez.
-- Em
que circunstâncias?
--
Tive que contar. Não podia esconder do meu marido que um delegado esteve em
nossa casa para falar comigo.
-- E
depois na minha. Precisei também por Onofre a par.
Desassossegada,
Catarina se remexe na cadeira. Amelinha se preocupa.
--
Sente-se bem?
--
Como poderia?
-- Oh,
querida, não podíamos deixar de te avisar.
--
Fizeram bem. O que mais seus maridos sabem?
-- Só
da visita do delegado e do interesse dele na morte de Carlota.
-- Santo
pai, o que esse homem quer?
--
Perguntou se o magistrado tinha uma amante. Não dei trela. Falei que aquilo era
desonroso e corri com ele de casa.
-- Eu
também.
--
Como ele reagiu?
-- Atrevidamente.
Insinuou a minha participação nos Cruzados.
--
Comigo foi categórico. Disse das cartas que escrevemos na casa de Carlota.
--
Como poderia saber?
--
Alguma criada deve ter falado. Às vezes a gente bebia um pouco de Porto para
ter inspiração... Podemos ter falado alto.
-- O
delegado ameaçou contar para Adalberto ou para Onofre?
--
Não. Só queria mesmo saber da causa do desespero da Carlota.
-- Estamos
tão aflitas! Imagina se ele der com as línguas nos dentes?
-- Se
quisesse, já teria feito isso.
--
Então por que esteve conosco?
-- É o
que me pergunto.
-- O
que vamos fazer?
--
Ficar quietas. Não ganhamos nada com a precipitação.
--
Pesa-nos tanto saber que demos ilusões para Carlota.
--
Deveríamos tê-la ajudado a buscar o consolo divino...
-- Não
lutar contra suas adversidades conjugais.
--
Precisamos ser fortes. Temos Sóror Helena do nosso lado. Pediu-me discrição e
atenção. Esteve com vocês, não?
-- Sim
e nos pediu silêncio completo para a alma de Carlota finalmente descansar.
-- Mas
o problema somos nós. Como viver o luto em paz com essa ameaça?
-- A
quietude nos protegerá.
--
Sinto como se uma adaga estivesse apontada para o meu peito.
-- E
eu estremeço a cada batida no portão.
--
Nossa Senhora não nos faltará: como mulher, entende o que fizemos.
--
Talvez devêssemos nos confessar.
-- Já
o fizemos. Não há penitência maior do que esta pela qual passamos.
-- É
injusto ser culpada por ajudar uma amiga.
--
Vamos rezar uma salve-rainha pela paz de Carlota e de nossos corações.
Olhos
se fecham, mãos se cruzam e lábios balbuciam a prece.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
Nenhum comentário:
Postar um comentário