O PEDIDO
Cavaletes cobertos com tecido
dourado perfilam-se num salão do solar. Catarina fixa uma fotografia em um. Na
mesa ao lado, escolhe outro retrato e repete a operação até sentir que
completou a composição do painel. Recua alguns passos. Acha adequado o número
de imagens: mais será excesso, menos
faltará. Valentin faz da fotografia sua pintura. É talentoso e sensível.
Enxerga dignidade onde ninguém vê. E os convidados, irão gostar? Começa
nova composição.
-- Terá material para ocupar tantos
cavaletes?
Catarina gosta de ouvir a voz do
amigo. Vira-se e o acha abatido.
-- Além das suas fotografias, ainda
tenho croquis e plantas da cidade para fixar.
-- Uma informação privilegiada para
as abelhinhas que reuniu?
-- A maioria já foi publicada em
algum jornal.
-- Ah!
-- Que tal, valorizo sua arte?
-- Não faria melhor.
-- Talvez devesse tomar um bom
banho de mar e se poupar para estar com boa aparência para o sarau.
-- Sim, senhora.
-- Por quanto tempo é preciso
prender a respiração num banho de mar?
-- Se não for mergulhar, nem se
sente.
-- Subo ou desço?
-- Na onda?
-- Bobinho, falo da fotografia.
Valentin percebe-se saudoso dessa
tola expressão.
-- Sobe. O que queria me pedir?
Catarina responde dirigindo-se à
mesa:
-- Ser quer me levar para tomar
banho de mesa.
O pedido o surpreende. Pega os
retratos que ela lhe estende e indaga:
-- Theodoro está ciente?
-- Há reservas até entre cônjuges.
-- Modernidades de uma senhora
casada?
-- Que conta com a sua eterna
discrição.
Catarina se dirige à mesa, enquanto Valentin
se volta para o painel. Imagens de um possível banho de mar se projetam sobre a
fotografia que fixa.
-- Por que pede para mim?
-- O que acha?
-- Está ficando excelente.
Valentin dá um muxoxo irônico ao
ouvir a voz de Theodoro. Já Catarina caminha com os braços estendidos e as mãos
prontas para colher as do marido.
-- Que bom que gostou!
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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