DE
NOVO, A MELANCOLIA
Horas,
luz e calor sobram nos próximos dias. As chuvas rápidas e pesadas trazem algum
refresco, mas logo o desassossego volta a grudar no corpo de Páscoa. A
reluzente e bem-aventurada sensação de fusão com a vida se esvaiu e o vazio
deixado por Grego a atormenta, com o pensamento de que sua ausência terá de ser
para sempre. O corpo sente, ressente-se, lateja a dor do que não pode ser.
Os passeios se restringem à praia do arraial, em um
exercício de força, no qual Páscoa impulsiona o corpo modorrento pelo cenário
onde transitou tão feliz. Esforça-se por atender às demandas de Sofia. Para
compensar tudo o que não lhe deu. Para ajudar a si mesma a carregar a vergonha
que sente de se ver às voltas com outro mal-estar. Depois borda, borda muito,
numa tentativa de enfrentar sua inadequação de viver com a beleza que consegue
criar. Com alívio vê a noite chegar, para desfrutar do silêncio consentido por
todos. O sobrado no escuro, recosta-se na poltrona, diante da janela aberta do
quarto e fica lá, quieta com a sua dor. Sente-se acolhida pelo negro-roxo do
céu e consolada pela lua, que surge mais tarde a cada noite e, como ela, também
mingua em novo ciclo de um destino nulo. Resigna-se aos estrondos raivosos das
vagas que arrebentam nas pedras do mar. A
tormenta passará. Crê. Filha das sensações e sentidos, vive e sobrevive à
sua sina, a cada vigília noturna.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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