segunda-feira, 11 de maio de 2015

Capítulo Cinquenta e Cinco

DE INQUIETAÇÕES


Mariinha bate a porta da casa e sai desembestada. Acaba de brigar com Ismênia, por causa dos afazeres domésticos. Ampliaram-se desde o final de fevereiro, quando Altino acolheu na casa o irmão e a família, vítimas dos despejos ocorridos na estalagem do Manoel do Porto. Mariinha teve de ceder seu quarto para Bertoleza, Rubião e a escadinha de filhos e tudo dobrou: a roupa para lavar e passar, a água para botar no feijão, as panelas para ariar e os pinicos para esvaziar na latrina – obrigação esta que é da Bertoleza quando aos despejos da sua família, mas que sempre se esquece de fazer porque toda manhã sai apressada para trabalhar. Há ainda as crianças que Mariinha tem de cuidar, para o casal economizar com ama e logo se mudar. Outro inconveniente são os olhares glutões de Rubião e as investidas furtivas que ele dá durante a noite na saleta, onde ela passou a dormir. Isso não é vida. Vou achar o Abel e arrumar um protetor.
O desassossego também está presente no casario de Sinhá Cota. Os porcos e parte das galinhas partiram bem cedo para o sítio de um conhecido das mulheres. Quando a resignação se assentava no coração, Juliano surgiu com notícias preocupantes. Pietro encerrara o contrato das lutas, por causa dos questionamentos feitos por jornais à lisura do habeas corpus expedido por Abreu Vaz. Com o nome indicado para presidir a Justiça Sanitária, o magistrado pediu ao empresário para suspender a exibição da arte marcial e desse modo evitar outras críticas que comprometessem a sua nomeação. Embora tenha sido convidado por Pietro para chefiar a segurança da casa de diversões, Juliano preferiu declinar do convite, com planos de seguir as pegadas do conde Akito, lutador que recentemente passara pela cidade do Rio de Janeiro em excursão nacional.
-- Se o japonês pode, por que um brasileiro não?
-- Será preso, meu filho, alerta Delfina, aflita com o plano.
-- Se este for o meu fim, minha mãe, pelo menos eu irei ter com o meu pai em Fernando de Noronha.
Divina sente um arrepio e teme pelo destino de Juliano.
Dias depois o jovem e o amigo Zé da Baiana partem para a Bahia, e outro juiz, que não Abreu Vaz, é empossado na Justiça Sanitária.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
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