O COMÉRCIO DO BRASIL
Theodoro
passou o fim de semana nos braços de Ninon. Só pela manhã tomou conhecimento do
lançamento do Comércio do Brasil e
acaba de receber em seu gabinete, o chefe de polícia.
-- Ia ao
seu encontro.
--
Antecipei-me e creio que pelo mesmo motivo.
--
Explosiva a publicação, diz mostrando o jornal.
-- Tanto
que peço licença para, em casos como esse, incomodá-lo onde estiver quando se
ausentar de vossa residência.
Theodoro
desconfia de que Silva Castro esteja ciente de qual foi o seu paradeiro nos
últimos dias. Ignora o fato e o pedido.
--
Quando soube do jornal?
-- Na
madrugada de domingo, mas isso aqui, na manhã de sábado, fala e lhe estende uma
folha.
Theodoro
lê uma carta de Leopoldino a Varela. Fica ciente da satisfação do remetente em
informar que a causa da regeneração da República se propaga pelo país afora com
novas adesões. Passa os olhos pela lista dos novos correligionários que se comprometeram
em vender assinaturas do jornal e pergunta o que depreendeu de ter acessado o
conteúdo:
--
Imagino que redobrou sua atenção no Correio e Telégrafos.
--
Exatamente como combinamos.
-- O que
pensa fazer agora?
-- A
carta original será entregue hoje ao deputado e a cópia para o ministro.
--
Acautele-se. Seabra informará o presidente e ambos ficarão precavidos com seus
métodos de trabalho.
-- Com
os nossos!
-- Claro
que sim, mas é você que quer pô-los a par.
-- Entenderão
a nossa intenção em não sobrecarregá-los fora de hora.
-- Aconselho-o
a transformar o conteúdo em conjecturas. São compatíveis com a sua mente arguta
e se se beneficiará com esse procedimento.
-- Porém
a carta é a prova.
-- Brás
Lopes está na lista e escreveu no jornal. Tem o que precisa.
-- Mas não
pego Leopoldino.
-- Pense
bem na adequação de denunciar gente do relacionamento de um superior. Irá
deixá-lo sem espaço para manobrar a situação conforme a conveniência dele. O
desconforto pode se voltar contra você.
-- Não
está preocupado com a segurança nacional?
--
Preocupadíssimo. Mas graças a sua eficiência já sabemos quem sustenta os
insurretos. E a situação se configura como uma briga de família. Tem de ser
resolvida de outro jeito. O presidente ouvirá pela voz do ministro suas
suspeitas e saberá como agir. Enquanto você terá cumprido seu papel da melhor
forma e sem se expor.
Theodoro
vence a peleja. Acompanha o chefe de polícia até a porta e se dirige ao
gabinete presidencial para encarar de vez as consequências de não ter evitado
aquela publicação. Na antessala, cruza com o ministro da guerra, que acabara de
sair de uma reunião com Rodrigues Alves. Logo mais, está sentado diante do
presidente. As edições do Comércio do
Brasil se exibem sobre a mesa.
-- Sinto
pela publicação: escapou por completo ao meu controle.
--
Conter a oposição é colher água com a mão. Cuide para que esse jornal não puxe para baixo vossa eficiência.
-- Cuidarei.
E garanto ao senhor: o projeto da vacina será reapresentado em breve e agirei
para acalmar os ânimos da redação do Comércio
do Brasil.
-- Ótimo.
Se procurado pela imprensa, não dê importância ao apelo de intervenção armada. Bata
na tecla de que o contraste de opiniões faz parte da democracia.
-- Há a
perspectiva de aplicarmos a lei caso continuem a instigar a sedição?
-- Apenas
em última instância que não ocorrerá. Vamos trabalhar para chamar a razão dos
nossos conhecidos.
--
Perfeitamente.
-- Irei
ver quem pode ombrear com o senhor esses esforços e volto a lhe falar para
evitarmos as cabeçadas de tarefas duplas.
-- Sim,
senhor.
--
Faz-se necessário.
Após a
reunião com o presidente, Theodoro instrui BV.
--
Descubra quem é o proprietário do imóvel, se usam tipografia própria ou alheia,
quem fornece tinta, papel, como distribuem o jornal e para que cidades. Levante
também com que banco trabalham e me descubra quem é Apolônio Cidadão. Quero um
relatório completo. Bote o Coelho para te ajudar .
-- Sim,
senhor. Os gastos correm como de costume?
--
Exato. Onde está Vivaldino?
-- Na
viração.
--
Quero-o dentro da redação. A prioridade lá é esse tal de Apolônio Cidadão.
-- Pode
deixar. Quanto a Vivaldino, ele tem jeito para contínuo e expediente para pedir
a vaga, mas sem um empurrão não consegue entrar.
-- Vou
arrumar uma carta de recomendação, diz e libera BV, cismado com o desconhecido
jornalista. Quem é esse sujeito?
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