domingo, 31 de maio de 2015

Capítulo Setenta e Um

DO FALCÃO


Ernesto conversa com Theodoro na sala reservada no Clube dos Diários. Pedira o encontro mais cedo e o põe a par de rumores ouvidos de que os concorrentes estão agindo para impedir a entrada do grupo no mercado.
-- Estou sabendo, responde Theodoro.
-- Por que não me contou?
-- Não altera o curso das nossas ações.
-- Como não, se pode inviabilizar o negócio?
-- Não há capital para proibir a participação estrangeira. Por isso, cabeça fria.
-- Mas podem criar uma lei que faça o capital de fora ficar refém do local. Estão organizando um centro de estudos da indústria brasileira. Um bom local para formar opinião e pressionar o governo.
-- Isso não passa de outro clube de engenheiros.
-- Seja mais humilde, Theodoro. Quem me contou ouviu de Jorge Osório.
-- Só podia ser. Quer nos cutucar pra gente mostrar o jogo.
-- Que seja. Mas os principais estão pra chegar. O que irá apresentar?
-- Os ativos da concessão William. Quer mais do que isso?
-- Não cante a vitória antes da hora.
-- A compra é certa. Dinheiro na mesa, a produção e a distribuição da energia é nossa.
-- O que adianta se os entraves multiplicarem com uma lei nova?
-- Ficaremos nós com a concessão e eles com os entraves que criarem. Não será uma situação confortável para o governo.
-- Fico pasmo com você. Parece que gosta da pressão
-- Ganhar é bom, mas jogar também e nessa jogada nós é que daremos as cartas.
Ernesto vai embora, e Theodoro sai em seguida. Dirige-se à Casa Rosada com planos de ali plantar um espião para ampliar suas fontes de informações sobre os adversários econômicos.
Ninon se esquiva da proposta de Theodoro, com uma leveza que ainda encobre o incômodo dele mal chegar e já estar despindo-a do penhoar. Considera a impetuosidade sexual excitante. Porém, quando recorrente, causa-lhe enfado. No entanto, não pode se dar o luxo de ferir a suscetibilidades do amante da vez. Dá-lhe as costas para que abra o corpete usado sobre a combinação e engabela seus intentos investigatórios.
-- Bijoux não tem primores para essa missão.
-- Nada que uma boa orientação e uns réis a mais não resolvam. Quero saber o que está preocupando Jorge Osório e o que grupo dele pensa em fazer.
-- Qual a razão, se conhece todos os passos possíveis a serem dados?
Pelo cadarço do corpete, puxa-a para junto de si.
-- Hei, está se recusando a me ajudar?
-- Jamais. Temo lhe prejudicar com informes de quem só sabe dizer ai! Ui! Oh!
-- Hun! – zomba e retoma a operação de liberar a peça de roupa.
-- Além do mais, não me parece que Jorge Osório seja dado a confidências.
-- Bom, se Bijoux não tem o poder para tanto, delego então a missão para você.
Ninon se sente encalacrada. Theodoro a despe e a veste com o seu casaco. Deita de costas e a chama.
-- Vem, monte-me.
No dia seguinte, Ninon manda Bijoux passar um tempo fora da cidade. Da confidencialidade do que é dito ali, entre lençóis, dependem os lucros da Casa Rosada. Disposta a enfrentar a ameaça da concorrente Louise com outras armas, concentra-se em Theodoro: como lhe dar a sensação de que é você quem vai embora, meu falcão.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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