DO FALCÃO
Ernesto conversa com
Theodoro na sala reservada no Clube dos Diários. Pedira o encontro mais cedo e
o põe a par de rumores ouvidos de que os concorrentes estão agindo para
impedir a entrada do grupo no mercado.
-- Estou
sabendo, responde Theodoro.
-- Por
que não me contou?
-- Não
altera o curso das nossas ações.
-- Como
não, se pode inviabilizar o negócio?
-- Não
há capital para proibir a participação estrangeira. Por isso, cabeça fria.
-- Mas
podem criar uma lei que faça o capital de fora ficar refém do local. Estão
organizando um centro de estudos da indústria brasileira. Um bom local para formar
opinião e pressionar o governo.
-- Isso
não passa de outro clube de engenheiros.
-- Seja
mais humilde, Theodoro. Quem me contou ouviu de Jorge Osório.
-- Só
podia ser. Quer nos cutucar pra gente mostrar o jogo.
-- Que
seja. Mas os principais estão pra chegar. O que irá apresentar?
-- Os
ativos da concessão William. Quer mais do que isso?
-- Não
cante a vitória antes da hora.
-- A
compra é certa. Dinheiro na mesa, a produção e a distribuição da energia é
nossa.
-- O que
adianta se os entraves multiplicarem com uma lei nova?
--
Ficaremos nós com a concessão e eles com os entraves que criarem. Não será uma
situação confortável para o governo.
-- Fico
pasmo com você. Parece que gosta da pressão
--
Ganhar é bom, mas jogar também e nessa jogada nós é que daremos as cartas.
Ernesto
vai embora, e Theodoro sai em seguida. Dirige-se à Casa Rosada com planos de
ali plantar um espião para ampliar suas fontes de informações sobre os
adversários econômicos.
Ninon se
esquiva da proposta de Theodoro, com uma leveza que ainda encobre o incômodo
dele mal chegar e já estar despindo-a do penhoar. Considera a impetuosidade
sexual excitante. Porém, quando recorrente, causa-lhe enfado. No entanto, não
pode se dar o luxo de ferir a suscetibilidades do amante da vez. Dá-lhe as
costas para que abra o corpete usado sobre a combinação e engabela seus
intentos investigatórios.
--
Bijoux não tem primores para essa missão.
-- Nada
que uma boa orientação e uns réis a mais não resolvam. Quero saber o que está
preocupando Jorge Osório e o que grupo dele pensa em fazer.
-- Qual
a razão, se conhece todos os passos possíveis a serem dados?
Pelo
cadarço do corpete, puxa-a para junto de si.
-- Hei,
está se recusando a me ajudar?
--
Jamais. Temo lhe prejudicar com informes de quem só sabe dizer ai! Ui! Oh!
-- Hun!
– zomba e retoma a operação de liberar a peça de roupa.
-- Além
do mais, não me parece que Jorge Osório seja dado a confidências.
-- Bom,
se Bijoux não tem o poder para tanto, delego então a missão para você.
Ninon se
sente encalacrada. Theodoro a despe e a veste com o seu casaco. Deita de costas
e a chama.
-- Vem,
monte-me.
No dia
seguinte, Ninon manda Bijoux passar um tempo fora da cidade. Da
confidencialidade do que é dito ali, entre lençóis, dependem os lucros da Casa
Rosada. Disposta a enfrentar a ameaça da concorrente Louise com outras armas,
concentra-se em Theodoro: como lhe dar a
sensação de que é você quem vai embora, meu
falcão.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema
e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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