DO MAL DOS DESPEJOS
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Isso pede quebra-quebra. Só a fuzarca acorda de vez o Soneca, diz Touro de modo veemente.
Depois, Damião da Silva, de trinta e alguns anos, fita os presentes, com a sua convicção de que só tumultuando a solenidade de inicio
da reforma da Avenida Central, o presidente do país atinará para o mal dos
despejos. É um homenzarrão negro, de branco dos olhos quase sempre avermelhados.
O
local é o CCO, Centro das Classes Operárias, e a situação, a reunião dos associados
despejados. Vicente de Souza, presidente-fundador da entidade, médico e
socialista, na casa dos cinquenta anos, silencia sua rejeição à proposta.
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Alguém tem outra sugestão?
Rostos
se entreolham, ninguém fala e Touro, ainda de pé, pede para que seja posta em
votação o quebra-quebra. Vicente resiste.
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O confronto não nos ajuda. Melhor a lei e a paz, seu Damião.
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Defende uma ordem que bagunça a vida da gente?
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Defendo a legalidade, a exemplo de um abaixo-assinado. Podemos encaminhá-lo
para Municipalidade e também para o Congresso Federal.
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Isso não vai levar a nada. Nosso caminho é do debate e do convencimento.
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Não tem tido serventia. Político é um bando de cartolas, sem respeito e atenção
aos reclamos e às penúrias dos operários.
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Nem todos!
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Mas não dão no coro. É coisa de luta, seu Vicente.
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Não será com depredações e vandalismos que atrairemos para a causa socialista o
apoio dos obreiros do nosso país.
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Fique então com essa bosta de ordem porque eu tó fora.
A
saída de Touro estimula a de outros. Apesar de não ter sido despejado, Correia compareceu
ao encontro para se solidarizar com os demais companheiros. Preocupa-se com o
esvaziamento e com a atitude de Vicente em procurar apoio junto aos políticos
em hora que requer apoio imediato aos despejados. A reunião termina sem
resultados.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright
de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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