segunda-feira, 13 de julho de 2015

APÊNDICE

PERCURSO CRIATIVO E CRÉDITO AUTORAL


Na parte O Mar, inseri trechos de Madame Bovary de Gustave Flaubert (2000) e resumi a trajetória final desta personagem. Criei Dr. Eugênio e retratei o tratamento por reclusão com base no estudo de Bárbara Ehrenreich e Deirdre English (2003) acerca da prática médica no final do século XIX e inicio do XX.
Em O Rio, transcrevi ideias de Reis Carvalho (1904) para elaborar o discurso de Catarina sobre a inteligência feminina e, nas suas confidências sobre a esposa que se tornou, reescrevi conselhos às noivas dados por Julia Lopes de Almeida (1905). Adaptei uma reza dos idos coloniais pesquisada por Mary Del Priore (2001) que foi dita por Divina quando clamou para que o mal da infertilidade fosse embora para a ilha de enxofre do mar coalhado e, nos cantares de Catarina e Valentin, inseri versos resumidos de Cântico dos Cânticos: “Quem é esta que surge como a aurora? Bela é tua face entre os brincos; teus lábios são fitas de carmim; teu peito apoia minha cabeça e teu braço me enlaça; põe-me como um selo em teu coração”.
Devo ao estudo de Peter Gay (1988) sobre a sexualidade na era vitoriana a criação de Catarina, que proferiu expressões da escritora norte-americana Mabel Loomis (1856-1932): “Tenho gosto por cavalheiros; círculo de magnetismo pessoal; um gênio se apossou de mim”. Na cena em que fala sobre Levana e interpreta Lágrimas, Suplícios e Trevas, o texto dito se baseia no escrito por Charles Baudelaire (1998), em Paraísos Artificiais – O Ópio e Poema do Haxixe. A preparação do ópio por Valentin, na cabine do navio, se baseou em registros de João Osório de Castro (1911?) com relação ao vício do poeta português Camilo Pessanha (1867-1926).
Transcrevi raciocínios de Manoel Bonfim (1903), analisados por Darcy Ribeiro (1984), para compor o artigo de Valentin, “Os Alvos Indeclináveis de Alves”. Nessa composição, adaptei para a realidade do Brasil a visão de Bonfim sobre os males de origem dos países da América Latina e reproduzi sua citação acerca do desalento do intelectual Érico Veríssimo (1857-1916) com a diversidade étnica do povo brasileiro.
A viagem de Valentin pelo Pará e pela Amazônia seguiu o itinerário percorrido por Theodor Kock-Grünberg (2005; 2006) e contém situações narradas pelo etnólogo em seus livros sobre essas expedições. Redigi o diálogo dos dois com base também nessas narrativas e em cartas trocadas por Grünberg com filólogos brasileiros que foram estudadas por Beatriz Protti Christino (2006). Durante a viagem para Manaus, inseri na fala dos engenheiros militares a solução proposta por Euclides da Cunha (1905) para os problemas de travessia pelos afluentes do rio Amazonas, conforme citação de Leandro Tocantins (1986). A visão do latifundiário manauense sobre os índios de Manaus reproduz a opinião de Alexandre Ferreira Rodrigues (2007), autor em que ainda me baseei para escrever a leitura de Valentin sobre o líder Ajuricaba.  
Recorri ao trabalho de Norbert Elias (2000), em coautoria com John Scotson, para narrar o efeito das ideias, das fotografias e do modo de vestir de Valentin nos convidados do sarau. 
Olavo Bilac (1903, 1904) se expressou, na maioria das vezes, com textos de suas crônicas, literais ou reescritos, e com base em entrevista dada a João do Rio (1905?) e citada por Elias Thomé Saliba (2001). Conteúdos de Bilac também foram ditos pelo personagem Munhoz.  Por sua vez, o colunista do sarau discorreu sobre a elegância feminina com palavras de Figueiredo Pimentel (1914).
À luz das descrições de Luís Edmundo (2003) sobre a cidade do Rio de Janeiro e sobre a população, escrevi o cenário humano e físico da Capital Federal, em especial na terceira parte, A República. A frase de Abel Adonis – “Ó lago que a brisa mal encrespa! Ainda não és um oceano para luxar” – é do romancista e dramaturgo português Pinheiro Chagas (1842-1895) e citada por Edmundo. Transcrevi, na voz de Corina e Delfina, trechos de modinhas registradas por esse autor, de quem ainda me vali para encenar a briga de Abreu Vaz com Rubião, com expressões de então: “sabe com que está falando? Napoleão à paisana?”. Devo aos relatos de João do Rio (1908) a criação das tabuletas comerciais do Largo Carioca e incorporei no texto sua observação dos dizeres “outras aves de pena”. Com transcrições e adaptações da crônica A Cidade citada por Glória Kok (2005), sem autor identificado, elaborei o entrevero entre o fiscal do bonde e o passageiro que queria cuspir. E usei o verso “Ó abre alas que eu quero passar...” (1899) de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) na cena de carnaval na rua.
Inspirei-me em pessoas dos idos coloniais estudadas por Nireu Oliveira Cavalcanti (2004) para criar Divina Negrão e Sinhá Cota, e concebi Ninon de Valoir com base na cortesã francesa Ninon de Lenclos (1620-1705), biografada por France Roche (1990).
Inseri na narrativa dos debates da mocidade militar a frase de Latino Coelho (1889) de que a “República era o porvir necessário, único e inadiável dos povos humilhados e abatidos da sua dignidade” cuja fonte foi Luísa Maria Gonçalves Teixeira Barbosa, em estudo sobre o Brasil e o ideário republicano na imprensa portuguesa (s/d).
Elaborei os diálogos de Euclides da Cunha e a sua carta para Herculano com base em suas correspondências pessoais (1901 a 1904) e em estudo de Roberto Ventura (1996). Outras fontes de informações foram José Carlos Barreto de Santana (1996), no tocante às expectativas de Euclides em lecionar na Politécnica de São Paulo, e Afonso Arinos Filho (2009) com relação às suas tratativas para se integrar na expedição de demarcação das fronteiras do Acre. O trabalho de Rachel Aparecida Bueno da Silva (2012) inspirou-me para elaborar a decepção republicana de Herculano à luz da de Euclides.
Com base em Diário Íntimo (1900-1921) de Lima Barreto (1904/1953) escrevi seus diálogos. Dessa obra, transcrevi seus prognósticos sobre o futuro daqueles que foram presos por causa das revoltas retratadas pelo romance e de O Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) o texto redigido por ele no Primeiro de Maio ficcional. Utilizei conteúdos de Manoel Benício (1997) para elaborar seus diálogos com Herculano e para retratar Canudos, além dos de Euclides da Cunha, em Os Sertões (2003) e de Silva Maria Azevedo (2002), entre outras fontes de informação.
O discurso de posse (1902) e a mensagem (1903) ao Congresso de Rodrigues Alves subsidiaram-me no processo de retratá-lo no romance. Da mesma forma recorri aos pronunciamentos de Campos Sales (1898) para citá-lo. Outra fonte importante, em ambos os casos, foi Sertório de Castro (2002) de quem transcrevi e reescrevi, na sua própria voz, temas da reurbanização. Com base em seus escritos, ainda elaborei diálogos de Oswaldo Cruz e recorri a Jorge Augusto Carreta (2011) para expor os receios com relação à vacina contra a varíola. Pautei-me, sobretudo, nos estudos de Arthur Adolfo Cotias e Silva (2000) para figurar Rui Barbosa, e, no tocante a Lauro Sodré, minhas principais fontes de informações foram Américo Freire (1997), Celso Castro e Juliana Gagliard (2009). Eneida Quadros Queiroz (2008) me subsidiou na elaboração dos diálogos e discursos de Barbosa Lima, Alfredo Varela e outros políticos, bem como no desenvolvimento da temática sobre a justiça sanitária. Recorri também à pesquisa de Cíntia Lima Crescêncio (2008) para escrever ou transcrever discursos proferidos no Congresso Nacional ficcional e fundamentei a trama do grupo A Corrente em Carlos Kessel (2001), Elisabeth von der Weid (s/d) e Rui Barbosa (1907).
Desenvolvi a temática do meretrício com base em estudo de Rachel Soihet (1984) e a prostituição de luxo a partir da pesquisa de Jeffrey D. Needell (1993), autor que também me ajudou a retratar o Colégio Pedro II e a elite da belle époque tropical. Jayme Benchimol (1984), com a sua investigação sobre a reforma urbana da cidade do Rio, estimulou-me a responder de modo ficcional como pessoas de extratos sociais diversos se envolveram na Revolta da Vacina e na tentativa de Golpe de Estado. Para recriar esses eventos, também me apoiei em Antônio Augusto Cardoso de Castro (1904), Nicolau Sevcenko (2001; 2010) e José Murilo de Carvalho (1990; 2010). Esse autor, com seu estudo sobre o imaginário republicano no Brasil, ainda me inspirou na concepção da cena em que Páscoa descontrói a imagem. Finalmente, destaco as contribuições de Gustavo B. de Lacerda (2010) acerca do pensamento de Augusto Comte que me permitiram abordar o positivismo e criar o perfil político de Herculano.
Em todas as fontes pesquisadas, privilegiei conflitos, singularidades, ambivalências e diversidades da época para escrever O Rio e o Mar. E, embasada, nos estudos políticos, preenchi com a ficção lacunas de fatos históricos ainda não elucidados, como aqueles relacionados com a ausência de Lauro Sodré no comício no Largo de São Francisco e com o abrandamento do seu discurso, dias antes da visada tomada de poder, momento em que parou de defender as revoluções salvadoras e propôs protestos ordeiros. Nas asas da imaginação, também retratei o modo como o governo de Rodrigues Alves lidou com a conspiração, uma vez que há mais de um ano a segurança pública seguia os passos dos conspiradores e tomara conhecimento em abril de 1904 da carta comprometedora de Leopoldino de Andrade. De modo similar, dei liberdade à imaginação e criei o nexo entre a conspiração política e a revolta popular contra a vacina, que conjugou o quebra-quebra com táticas clássicas de guerra, como as barricadas e os ataques a serviços públicos.
No Tópico Bibliografia deste Apêndice, apresento essas e as demais fontes primárias e secundárias que recorri para compreender o período retratado e tecer a narrativa. Mais uma vez, reitero o meu reconhecimento ao trabalho intelectual de todos e as minhas homenagens, com o compromisso de sanar qualquer esquecimento.



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