quarta-feira, 8 de julho de 2015

Capítulo Cento e Dezessete

NO PALÁCIO DO CATETE


-- A desordem campeia nossas ruas. Só com demissões no ministério podemos pôr fim no conflito e evitar resoluções piores.
-- Interpreta mal os acontecimentos, general, diz Rodrigues Alves a Olímpio da Silveira. -- O governo dispõe de forças para acabar com qualquer agressão armada. Certo que lamentarei mais sangue derramado. Mas não hesitarei em lutar contra tropas cuja frente se coloque imprudentemente um general do exército.
-- Entendido, excelência. Peço licença para me retirar.
Tão logo Olímpio sai, o presidente se reúne com o ministro da Guerra. Theodoro aguarda, na antessala, inquieto também por não ter notícias do solar.
Valentin aparece no portão dos fundos do Palácio. Quer entrar, mas é impedido. Por medida de precaução, visitas foram canceladas e o acesso permitido apenas a pessoas autorizadas. Entende a proibição como uma armação do seu desafeto e se desestabiliza. Agarra-se ao gradil.
-- Theodoro! Dê as caras!
A altercação tira o fiscal da segurança de dentro da Casa da Guarda. Os trajes elegantes do exaltado o nome gritado lhe inspiram uma ação diplomática. Vencido na sua tentativa de persuadir o adiamento da visita, pergunta a quem deve anunciar.
-- O pai do filho dele.
O inusitado da identidade subverte as normas de segurança máxima. Entre pausas, nas quais se sorve o escândalo da paternidade anunciada, a mensagem sobe a linha hierárquica e alcança o secretário de governo pela voz do seu auxiliar de gabinete.
-- Quer por que quer ver o senhor e não diz coisa com coisa.
Theodoro imagina os disparates falados e a possibilidade do presidente ver da janela o destempero de Valentin. Sem pestanejar, procura novamente o chefe da casa-militar. Encontra-o subindo a escada e a sua procura.
-- Um amigo do senhor está lá fora – e muito descontrolado.
-- Preciso que o recolha.
-- Por favor, Dr. Theodoro, me acompanhe.
Olhares de través os alcançam durante o percurso para a área externa.
-- Como posso prender uma pessoa das suas relações?
-- Não é o que se faz com bêbados?
-- Nossas instalações são inadequadas e não posso desguarnecer nossa segurança em tarde tão alarmante.
-- Esse sujeito é uma ameaça pública. Leve-o para o hospício.
-- Confunde as funções do meu posto, senhor secretário. Melhor acalmá-lo e fazer ir embora por pernas próprias.
-- Não pode entrar no Palácio.
-- Nem tumultuar o portão. Receba-o na Casa da Guarda, enquanto eu providencio a retirada dele daqui.
-- Ordene antes a desocupação do local e alguém para escoltá-lo até lá.
-- Dr. Theodoro, vamos dividir as tarefas?
-- O senhor é o responsável pela segurança. Com licença.
Tipinho intragável, fala entre dentes o general vendo-o se afastar.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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