À MESA DO JOGO
A campanha republicana continuou em 1889 – e também
os atritos entre os militares e o Visconde de Ouro Preto. Em setembro, o
professor-militar Benjamin Constant proferiu um retumbante discurso na Escola
da Praia Vermelha. Exigiu o fim das perseguições ao Exército e foi ovacionado
pela mocidade militar que deu viva à República. Em olhar lampejante de
confiança, Herculano reconheceu no mestre, estudioso da filosofia de Comte, o
condutor da aspirada transição para a era positivista. O discurso repercutiu no
Paço Imperial, na cidade e ainda em São Paulo e no Rio Grande do Sul, redutos
de defensores do fim da monarquia.
Novembro começou com Ouro Preto discutindo como
acabar de vez com as insubordinações do Exército e os militares em como ter os
brios respeitados. Doente do coração, o marechal Deodoro, em companhia de
Benjamin, autorizou alguns oficiais a congraçar mais pessoas para a reflexão.
Mas foi categórico.
-- Precisamos dar uma lição em Ouro Preto – não pôr
em risco o governo. Nosso único sustentáculo é a monarquia; se mal com ela,
pior sem ela.
Recém-formado em Direito pela Universidade de
Coimbra e em véspera de partir para Paris, Theodoro analisou a conjuntura
política permeada também da expectativa de uma reforma da monarquia. Discutiu o
tema com o pai.
-- Precisamos de descentralização. Defesas efetivas
de interesses se fazem com governos locais autônomos e com agilidade de
locomotivas.
Honório Augusto concordou, porém, com ressalvas.
-- Mas há de ser cuidadoso para o trem não
descarrilhar. Foi o que Ouro Preto falou com o Rui.
-- Barbosa?
-- Sim. De uns tempos para cá, anda a defender o
império federativo.
-- É um sujeito esperto.
-- Mas intransigente. Declinou o convite de Ouro
Preto para preparar a reforma. Quis prazos acordados e ações consecutivas.
-- Sinal de que a monarquia está por um triz. Convém também aderir a República.
-- Até você?
-- Pouco importa a forma de governo, pai, e sim se
manter na mesa do jogo.
-- Mas com a porteira fechada: aberta até boi
assusta.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
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