EMOÇÕES EM FRANGALHOS
Constrangido
Herculano suportou a revista da tropa pelo chefe da nação em meio à
luminosidade forte da manhã na Capital Federal. Sua reação não diferenciou
muito da de outros soldados perfilados ali no convés do navio que os trouxera
da Bahia. Com o porte alteado, em posição de sentido, escondiam emoções em
frangalhos, aturdimentos ou incômodos com a cerimônia que lhes rendia homenagens
pelo vitorioso combate. Talvez um observador atento pudesse identificar nos olhares
opacos de uns, nas piscadelas nervosas de outros, ou na contração involuntária
do músculo facial de Herculano a tensão provocada por essa celebração que se
desenrolava agora com um discurso de conteúdo alheio à verdade de que a vítima
fora derrotada e não o inimigo causador da mortandade em Canudos.
O
pelotão finalmente desembarcou no cais
Pharoux de onde seguiu o presidente e a sua comitiva. Logo mais o inesperado
alterou a configuração da passagem do cortejo por entre a população reunida
para saudar os combatentes. De um dos lados do aglomerado humano, um soldado à
paisana pulou sobre Prudente de Morais e corpos se atracaram. Após minutos de luta
e conturbação, o agressor foi preso e o ministro da Guerra, ferido, retirado em
carreira, bem como o intacto presidente com a sua comitiva.
Somente
após o final do tumulto e com a dispersão atônita em curso, Herculano avistou a
família, ainda aglutinada em espanto a alguns metros adiante. Lá estava a
mulher com a filha no colo, ladeada por Quitéria e Tião. Sentiu como se seus
braços já os tocassem e o coração disparou quando Páscoa entregou Sofia ao colo
da ama e veio em sua direção. Acelerou o passo contemplando o sorriso que nascia
e iluminava o rosto de mais alegria à medida que se aproximava... Por um
instante se nutriu da felicidade comum, mas as lembranças da guerra o atravessaram
e soaram suas denúncias, como as asas negras de urubus em voo sobre o alvo
putrefato. Não acolheu a mulher com o abraço anelado, nem a beijou quando a viu
se abandonar saudosamente ao seu peito. Afastou-a, tomou-lhe as mãos entre as
suas e a fitou em silêncio desassossegado.
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Vamos para casa, disse-lhe Páscoa, recompondo-se diante do aflito olhar.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
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