GOLPE BRANCO
Em
janeiro de 91, faleceu Benjamin Constant. Em fevereiro, a Carta Magna foi
promulgada pelos constituintes, empossados em novembro último, entre os quais faziam
parte os integrantes da Junta Provisória, com a exceção de Benjamin e de Deodoro.
Promiscuidade,
sentenciou Herculano por essa época, indignado com o conflito de interesses
inscrito no acúmulo das funções. Tal escrúpulo ou observação, entretanto, não teve
eco em muitos, pelo menos a ponto de se tornar uma questão jurídica ou ética
impeditiva para a dupla atuação. Tanto que o grupo conciliou as posições, até
dias antes da morte do ministro militar, quando se demitiram em conjunto do
cargo executivo.
A
demissão soou mal para Herculano. Afinal ocorrera não por causa do respeito ao
princípio republicano de separação entre os poderes, mas, sim, em virtude da oposição
a um projeto defendido pelo Marechal e elaborado em bases similares a outros
que os próprios aprovaram. Pressentiu um golpe branco a caminho; inquieto,
acompanhou o desenrolar dos acontecimentos.
Os
constituintes transformaram a Assembleia em Congresso Nacional e prorrogaram
por três anos o seu mandato. Começou, então, o processo eleitoral. Num
escrutínio indireto, regido pelo critério da vitória do mais votado,
independente de chapa, a maioria (57%) elegeu Deodoro para a chefia da nação e
proporção maior (68%) Floriano, candidato à vice-presidente da chapa
adversária, encabeçada por Prudente de Morais. A entrada de Deodoro na
cerimônia de posse ocorreu em silêncio sepulcral, a de Floriano, com efusivas
aclamações, num prenúncio do que se manifestou rapidamente.
Moções
e pedidos de informação sobre atos do poder Executivo eram formulados e
questionados a cada seção pela Câmara e pelo Senado. Os ânimos do presidente
exaltaram-se com os vetos recebidos aos seus projetos: -- isso é indisciplina
parlamentar. Exorbitam nas suas atribuições; legislaram em causa própria quando
prorrogaram seus mandatos. Preciso do poder moderador para governar, clamava o
presidente.
A
soberania popular rejeitou nova emissão de moedas e Deodoro dissolveu o
Congresso. Uma revolução se pôs em marcha no país e o marechal renunciou para
não deixar atear a guerra civil. Floriano Peixoto assumiu o poder executivo e
depôs todos os presidentes das unidades federativas que haviam apoiado aquela
dissolução. A agitação política se espalhou pelo país com defesas contra e a
favor dos governantes depostos. Na tribuna do senado, Rui Barbosa protestou:
--
De uma ditadura que dissolve o Congresso apoiando-se na fragilidade dos
governos locais, para outra que dissolve os governos locais, apoiando-se no
Congresso restabelecido, não há progresso apreciável.
Herculano
reconheceu má-fé nessa declaração e a prova de uma reviravolta no golpe branco
recém-dado: a corrente congregada por Rui Barbosa havia perdido força ao
enfraquecer de vez o inepto Marechal Deodoro e fora alijada do poder. O tiro
saíra pela culatra e a República encontrava-se à deriva.
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