terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Capítulo Sessenta e Nove

TIQUIÊ


Tiquiê, 01 de setembro de 1904.
Tenho passado por duras provas de moderação em contato com o consumo de plantas “mágicas” pelos nativos. Além do caxiri, bebem o kahapí, cheiram o paricá, comem e fumam o ipadú. O primeiro lembra uma cerveja e, como toda bebida alcóolica, estimula a alegria. Os dois seguintes desencadeiam o prazer onírico, às vezes, alucinações visuais, e o último afasta a fome e revigora o espírito. Num esforço espartano, consumi o suficiente para não fazer desfeita nessas celebrações que nos homenageiam e cogitei em abandonar a expedição para me proteger do vício. Mas só de pensar em partir, vêm-me à mente os locais onde posso me fartar desses narcóticos. Assim tanto faz ir ou ficar e há o acordo de ajuda mútua com Grünberg. Como não quero quebrá-lo, nem ser visto como uma pessoa instável, fico e aguardo o fim da nossa jornada prevista para ocorrer em breve. Grünberg quer tentar achar uma tribo Tuyuka moradora acima da catarata do Yabuti, próxima da Colômbia. Aposta no ineditismo do contato e quer fechar a expedição com esse trunfo. O prognóstico é chegarmos lá amanhã. Depois, pegaremos o caminho de volta e eu não viajo mais tão cedo. Irei me isolar em algum lugar e escrever sobre o ensandecido que tenho visto pelo mundo afora. Também quero muito saber como anda minha estrela de brilho maior. Não devia, porém, as saudades não me abandonam.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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