TIQUIÊ
Tiquiê, 01 de setembro de 1904.
Tenho passado por duras provas de moderação
em contato com o consumo de plantas “mágicas” pelos nativos. Além do caxiri,
bebem o kahapí, cheiram o paricá, comem e fumam o ipadú. O primeiro lembra uma
cerveja e, como toda bebida alcóolica, estimula a alegria. Os dois seguintes
desencadeiam o prazer onírico, às vezes, alucinações visuais, e o último afasta
a fome e revigora o espírito. Num esforço espartano, consumi o suficiente para
não fazer desfeita nessas celebrações que nos homenageiam e cogitei em
abandonar a expedição para me proteger do vício. Mas só de pensar em partir,
vêm-me à mente os locais onde posso me fartar desses narcóticos. Assim tanto
faz ir ou ficar e há o acordo de ajuda mútua com Grünberg. Como não quero
quebrá-lo, nem ser visto como uma pessoa instável, fico e aguardo o fim da
nossa jornada prevista para ocorrer em breve. Grünberg quer tentar achar uma
tribo Tuyuka moradora acima da catarata do Yabuti, próxima da Colômbia. Aposta
no ineditismo do contato e quer fechar a expedição com esse trunfo. O
prognóstico é chegarmos lá amanhã. Depois, pegaremos o caminho de volta e eu
não viajo mais tão cedo. Irei me isolar em algum lugar e escrever sobre o
ensandecido que tenho visto pelo mundo afora. Também quero muito saber como
anda minha estrela de brilho maior. Não devia, porém, as saudades não me
abandonam.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
Nenhum comentário:
Postar um comentário