sábado, 14 de fevereiro de 2015

Capítulo Setenta e Quatro

MALÁRIA E SAUDADES


A expedição evolui no caudaloso Uaupês. Há nove dias, Valentin faz o percurso prostrado por sezões. Começou a queimar de febre tão logo embarcou e, desde então, sua temperatura oscila. Protegido pela tolda da embarcação, balbucia palavras inteligíveis, transpira profusamente e delira. A expedição realiza paradas mínimas para chegar o quanto antes a São Gabriel e lhe propiciar o conforto devido. Não há muito mais a ser feito: ou o corpo reage ou é sucumbido de vez pela malária.
Cluny acolhe o grupo ao entardecer. À medida que os dias passam, a intensidade dos acessos diminui e os sinais de melhora se evidenciam. Pressionado pelos afazeres, Koch-Grünberg se despede.
-- Somou à expedição. Vamos nos manter em contato.
Sem força e ânimo para falar, Valentin abre um sorriso raso.
Schmidt oferece apoio.
-- Procure meus pais em Manaus. Terão prazer em hospedá-lo até a sua partida.
De novo responde com um riso frouxo e o etnólogo e o assistente partem rumo à fazenda de Germano Garrido Y Otero, senhor da vila de São Felipe, na boca do rio Içana. Lá organizarão a próxima etapa da expedição por outros afluentes do rio Negro.
Valentin sente alívio com o final do trabalho. Recorda-se da pressão vivida sete meses atrás, quando a viagem à Amazônia era uma necessidade a ser cumprida, e a recordação se desdobra na percepção da passagem do tempo, do presente já ser quase um passado. Só a saudade resiste à lei da transitoriedade de tudo. Devaneia com a ideia de ir para Manaus, despachar de lá o material da reportagem e o excesso de peso para Paris e, com a bagagem reduzida, retornar para ver a sua estrela maior. É o que faz . A 12 de outubro, embarca com destino ao Rio de Janeiro.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
        

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