terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Capítulo Sessenta e Sete

COISA DE POLÍCIA


Jornais de domingo chegam ao solar com nova publicação dos Cruzados da Moral. O teor da carta torna indigesto o café da manhã. Há insinuações de concubinatos de autoridades com atrizes-cortesãs, relatos da presença constante de homens públicos em lupanários e de casos de fortunas perdidas ali, além da alusão à profissão de alguns depenados e de outros em vias de ser, sobretudo por uma depenadora citada nominalmente: Ninon de Valoir.
Catarina assombra-se com a carta, que lhe dimensiona o risco de perder não só o marido, mas também a fortuna para a meretriz. Pensa na possibilidade de Carlota ter sido a sua autora: Não, não pode ser. Não escreve tão bem, nem tem como saber sobre assuntos tão picantes. Quem escreveu demonstra conhecer bem o bas-fond do Distrito Federal e quer intimidar algum poderoso, que protege a prostituição na cidade. A constatação desdobra-se em suspeita.
-- Theo, isso é coisa da polícia.
-- Por quê?
-- Não estão comprometidos em acabar com a desordem nas ruas? Podem estar tendo dificuldades com algum figurão e preferiram agir no anonimato.
A declaração suscita em Theodoro a lembrança de um delegado que recentemente disse à imprensa que a polícia estava de mãos e pés atados no combate ao meretrício por causa de juízes que mandavam soltar as dissolutas. 
-- É possível.
-- Agora entendo a dificuldade para descobrir quem são os pagantes dessas cartas. Os jornais não querem se meter com a polícia.
-- Talvez.
As monossilábicas respostas do marido inquietam Catarina. Porém, isenta-se da responsabilidade com relação ao desencadeado pela sua anônima campanha. Qualquer tempo ruim é preferível a deixar Theodoro nas garras da rival. Tenta encorajá-lo.
-- O Governo é mais forte do que essas voláteis mofinas. 
O marido apenas a fita.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário