COISA DE POLÍCIA
Jornais
de domingo chegam ao solar com nova publicação dos Cruzados da Moral. O teor da carta torna indigesto o café da manhã. Há insinuações de concubinatos de
autoridades com atrizes-cortesãs, relatos da presença constante de homens
públicos em lupanários e de casos de fortunas perdidas ali, além da alusão à
profissão de alguns depenados e de outros em vias de ser, sobretudo por uma
depenadora citada nominalmente: Ninon de Valoir.
Catarina
assombra-se com a carta, que lhe dimensiona o risco de perder não só o marido,
mas também a fortuna para a meretriz. Pensa na possibilidade de Carlota ter
sido a sua autora: Não, não pode ser. Não
escreve tão bem, nem tem como saber
sobre assuntos tão picantes. Quem escreveu demonstra conhecer bem o bas-fond do
Distrito Federal e quer intimidar algum poderoso, que protege a prostituição na
cidade. A constatação desdobra-se em suspeita.
--
Theo, isso é coisa da polícia.
-- Por
quê?
-- Não
estão comprometidos em acabar com a desordem nas ruas? Podem estar tendo
dificuldades com algum figurão e preferiram agir no anonimato.
A
declaração suscita em Theodoro a lembrança de um delegado que recentemente
disse à imprensa que a polícia estava de mãos e pés atados no combate ao
meretrício por causa de juízes que mandavam soltar as dissolutas.
-- É
possível.
--
Agora entendo a dificuldade para descobrir quem são os pagantes dessas cartas.
Os jornais não querem se meter com a polícia.
-- Talvez.
As
monossilábicas respostas do marido inquietam Catarina. Porém, isenta-se da
responsabilidade com relação ao desencadeado pela sua anônima campanha.
Qualquer tempo ruim é preferível a deixar Theodoro nas garras da rival. Tenta
encorajá-lo.
-- O
Governo é mais forte do que essas voláteis mofinas.
O
marido apenas a fita.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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