sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Capítulo Sessenta e Três

CRUZADA CONTRA A HIDRA DO MERETRÍCIO


A modernização do porto, a construção de bulevares e a difusão da iluminação elétrica são iniciativas apropriadas para fazer o Distrito Federal prosperar como um centro cosmopolita. Mas, sem o fim do meretrício, continuaremos vulneráveis à degradação física e moral causada pelas dissolutas que povoam nossa cidade.
Na alcova das mundanas, maridos contagiam-se com doenças e para o leito conjugal levam a moléstia à esposa, que transmite aos filhos a danação. Nas ruas e avenidas, jovens imaturos são atacados pelas servas do vício e donzelas e senhoras são insultadas com a exposição indecorosa das degeneradas. Em outras ocasiões, famílias de bem convivem sem saber com as insidiosas que ocupam as poltronas dos teatros fantasiadas de mulheres honestas. A impudicícia desonra a civilização e mina os esforços rumo ao alcance de uma socialização adiantada.
A moral deve ser a base de uma sociedade constituída e cabe ao Estado ditar a lei para o aprimoramento das virtudes dos indivíduos. De tal modo, demolir os antros do pecado também é responsabilidade do nosso governo que deve prender as prostitutas e deportar as estrangeiras. Punições também devem alcançar os praticantes desse mal sejam eles autoridades ou não. O exemplo é meio de instrução e barreiras contra a imoralidade devem ser erguidas, se quisermos defender nosso lar e nossa sociedade da degradação.
Convocamos os chefes de família a se alistar nesta campanha de proteção dos bons costumes. Escrevam senhores. Manifestem seu repúdio e exijam medidas contra a hidra do meretrício. A família brasileira agradecerá a honradez do seu gesto. 
OS CRUZADOS DA MORAL

Catarina termina a leitura da sua carta publicada em jornais da cidade. Com satisfação, paga Adamastor, que trouxe os exemplares.
-- Muito bem, aqui está a parte final do nosso trato.
-- Obrigado. Permita-me uma palavrinha antes de partir?
-- À vontade.
-- Agradecido. Pois então, como falei, foi difícil fazer o serviço. O caminho é comprido do balcão até a tipografia.
-- Não se preocupe. Trata-se de um assunto de utilidade pública.
-- Só que não passou pela aprovação. É muita gente para achar que a ordem veio de cima e que o texto podia ir para a máquina.
-- Como é bem relacionado! Espero que o carteiro que me indicou também o seja.
-- É sim, madame. Porém, tudo tem um custo, às vezes, diferente do pensado. Ainda mais quando não pode haver erros de espécie alguma.
-- Disse certo. Erros são imperdoáveis.
-- Pode então melhorar o agrado em nome do esforço?
-- Só estou fazendo um favor para uma pessoa muito importante.
-- Quem sabe se falar com essa fidalguia...
-- Acho melhor não. Quanto menos gente souber do senhor, mais protegido estará. Mas, aguarde um momento, por favor.
Catarina se dirige à escrivaninha decidida a não pechinchar a sua segurança. Abre a gaveta e ali manuseia algumas notas que entrega dentro de um envelope.
-- Por favor, aceite esse mimo.
-- Madame é muito gentil.
-- Faço gosto. O senhor demonstra saber que o combinado nunca sai caro.
-- É bom lidar com quem entende das coisas.
-- E com quem sabe cuidar bem da vitória e preservar a boa sorte, não é mesmo?
-- E como! Quanto ao carteiro, pode ficar tranquila. Ele sabe disso também.
-- Que bom! Fico no aguardo dele. Passar bem, senhor Adamastor, diz desejosa de ficar sozinha e se concentrar nos próximos passos da campanha.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos


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