terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Capítulo Setenta

YABUTI


Ao som vigoroso da queda das águas de Yabuti, Valentin está de pé na montaria que gira de um lado para outro, sob a pressão de correntezas contrárias, enquanto os tripulantes tentam mantê-la no local. Olha para frente – a cachoeira ruge; olha para trás – Grünberg também ruge de pé na proa da canoa, com seus acenos obstinados de seguir adiante. As emoções se agitam. Em equilíbrio instável, anda até a popa oscilante e grita para o etnólogo.
-- É loucura. Melhor voltarmos.
-- Não. Seremos os primeiros.
-- As montarias estão pesadas, podem virar.
-- Sem risco, sem pioneirismo. 
Nem glória, retruca Valentin. Acata as ordens e entrega-se ao destino.
A expedição rema ao encontro da turbulência. As montarias patinham sobre a crista de uma onda e são lançadas para o vale de nova vaga. A sensação é de que serão dragados. A tribulação de Valentin vence os ferventes redemoinhos que irrompem do fundo do rio cheio de pedras e a montaria desliza para o remanso. Os outros vêm atrás. Numa tentativa de manter a embarcação no prumo e no rumo, Schmidt segura Grünberg pela cintura e o etnólogo a corda da canoa rebocada onde estão os artefatos coletados. A correnteza a empurra rio abaixo e a corda estende-se ao limite a um triz de escapar das mãos dele. Os remadores imprimem mais força nos remos e a montaria ultrapassa a turbulência. Finalmente, a canoa singra águas mais calmas. O alívio brilha nos rostos exaustos e a respiração acelerada volta pouco a pouco ao normal quando alcançam a margem. 
Explorações na selva ribeirinha levam o grupo para trás da cortina de água onde descobrem uma trilha feita por toscos degraus cavados no morro. Enquanto a maneira de realizar o transbordo é discutida, insetos atacam com picadas ardidas. Corpos se empolam e Grünberg decide subir a carga por etapas. Haja ipadú, pensa Valentin. 
  
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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