terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Capítulo Sessenta e Oito

DISSABORES DE RAINHA


Os dias se sucedem e outras cartas anônimas mantém o assunto do meretrício nas páginas principais dos jornais. Carlota está satisfeita com os efeitos dessa permanência. O magistrado voltou a dormir em casa e retomou o hábito de acompanhá-la à missa dominical. Já Catarina espera provas mais concretas de que retirou o marido dos braços de Ninon de Valoir. Caminha com Theodoro pelo corredor do solar. 
-- Menos um dia para a chegada do nosso neném.
-- E mais outro de bordoadas no governo. Quanta estupidez!
-- Agosto mês de desgosto, já diziam os antigos.
-- Espero que setembro seja melhor.
Param à porta do quarto. Olham-se: a esposa anelando uma noite de amor, o marido reconhecendo essa intenção. 
-- Durma bem.
-- Daria tudo para tornar seu fardo mais leve.
Theodoro tem certeza disso e de que se casou com a mais fiel tradução da sua ideia de como seria se fosse mulher. Uma ideia que sempre lhe excitou. Tornou a esposa sua cúmplice na realização de vários objetivos, sempre, deslocando, um pouco mais para frente, a demarcação de até onde podia envolvê-la. No entanto, reconhece que alcançou seu próprio limite. Teme perder o controle da situação e se tornar um joguete dessa excitação. E há a inquietude com o corpo grávido, com tudo o que a concepção revela e oculta e com os perigos do parto. São muitas as apreensões. Não quer correr riscos desnecessários, justamente quando está tão perto de ter a criança almejada.
-- Cuide para que nada aconteça ao bebê e estará me fazendo um bem enorme.
-- É o que tenho feito todos esses meses.
-- Agora vá, deite-se e durma bem.
Beija-a na testa e se afasta ao contrário do desejo da mulher. Porta fechada, Catarina olha para sua barriga: É, meu bebê! A vida de uma rainha tem também dissabores.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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