VAZA A CONSPIRAÇÃO
É sábado, de noite, Abdias
atende Vivaldino no portão do solar.
-- Preciso falar com o patrão.
-- A essa hora?
-- É coisa braba e contra o governo!
Em robe de seda, Theodoro o recebe e escuta
suas notícias.
-- Daí juntei uma parte na outra e posso
disser: vão marchar contra o governo.
-- Disjunta e conta parte por parte.
-- Sim senhor. Sabe como é, tudo escrito, calhamaços
mandados para a tipografia, a raia miúda foi embora e os graúdos ficaram.
-- Pula os detalhes.
-- Acho que o senhor gostará de ouvir tudo
para tirar suas conclusões.
-- Fale logo, rapaz.
-- Então, dali a pouco, chegou o doutor
Fabrício. Apanhei um saco pra esvaziar as lixeiras e entrei na sala como um
gato, de orelha espichada nas falas da festa de anos do senador Sodré. O
capitão Herculano deu por mim e disse: já é tarde, Vivaldino, vai descansar. Eu
respondi sim senhor, mas não querem um café fresco?
-- Resume.
-- Sim, senhor. Mas tenho de contar por que
saí?
-- Vamos, rápido.
-- É prá já. Bom, deu no major Agostinho uma
vontade danada de comer empada e do quiosque do Matias. Tive de ir comprar.
Quando voltei, não entrei de pronto. Grudei atrás da porta, com um dedo assim
de fresta aberta, e ouvi um resto de prosa. O Dr. Varela disse que era isso
mesmo, que não há glória maior que ganhar a pátria como presente de anos! Aí
entendi tudo. Vão derrubar o governo para ter o presente que querem dar pra o
Dr. Sodré.
-- Quando será a festa?
-- Na segunda-feira.
Theodoro pensa em como encaminhar a questão.
-- Sabe onde Silva Castro mora?
-- Sei, sim.
-- Vá com o Abdias até a casa dele e traga-o
aqui.
Ordem cumprida, o relato de Theodoro enerva o
chefe de polícia.
-- Parece que estamos a fazer a mesma função,
secretário.
-- Tem alguém no Comércio do Brasil?
-- Não.
-- Resolvido esse ponto, apreciaria ouvir
suas impressões sobre o relato.
-- De fato, os conspiradores estão se
preparando para celebrar os anos do senador. Há dias um grupo de alunos se
cotizou para presenteá-lo com uma escultura de bronze. Desse modo, suponho que
seu informante aferiu a lástima dos conjurados em não poder realizar o que há
tempos sabemos que é a intenção deles.
-- Seus homens estão em vigia ininterrupta?
-- Dia e noite. E não há nenhuma movimentação
suspeita. Se houvesse, eu já teria sido avisado e agido com a prontidão que tão
bem conhece.
-- Foi o que imaginei e que teria
compartilhado comigo a sua eficiência.
-- Sem sombra de dúvida, senhor secretário.
-- Tem alguém para ir nessa celebração?
-- Sim, um aluno cotista do presente.
-- Isso que chamo de boas associações: cada
um complementa a força do outro.
-- Farei uma ronda para me certificar da
conveniência de informar o ministro Seabra ainda hoje ou na primeira hora de
amanhã.
-- Abdias fica a sua disposição.
-- Agradeço, logo o liberarei.
-- Acompanho até o jardim e obrigado pela
gentileza em me atender.
-- A Pátria sempre em primeiro lugar.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema
e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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