DO FALCÃO DESTRONADO
Ninon lê na coluna social de um jornal a nota
sobre o falecimento de Carlota. De noite, Theodoro lhe conta que foi suicídio.
-- Não há como abafar uma informação como
essa durante muito tempo. Enfim, tragédias acontecem.
-- Sabe dizer se as filhas já chegaram?
-- Não.
-- Vou visitar Abreu Vaz.
-- Agora?
-- As horas noturnas são apropriadas para
mim.
Theodoro acaricia o rosto de Ninon de quem
anda afastado.
-- Entendo seu apreço ao magistrado, mas
estou aqui.
-- E logo partirá. Curtas e retas são as
trilhas do seu desejo.
-- É ainda aprendiz de maga, minha deusa,
porque enquanto a olhava, pensava como a duração da volúpia é longa.
-- Sim para os amantes que gostam de se
conquistar todos os dias.
-- Ando distante, mas não quer dizer que não
a quero mais.
-- Possui alma de bandeirante: assentamentos
o entendiam.
-- Alguma dúvida de que é a minha gema mais
preciosa?
-- Nenhuma, mas conceda-me a virtude de
compreender a sua natureza.
-- Adoro você. E lhe concedo também a
expressão da virtude da amizade. Não a atrasarei mais para ir ao encontro de
Abreu Vaz. Passo aqui amanhã – se der!
A cortesã o acompanha até a porta, tranquila
em perceber que o desejo se foi e a amizade ficou. Tem como se defender da
concorrência sem se sujeitar ao falcão destronado.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema
e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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