DOS DESGASTES DO GOVERNO
O
artigo Homicídio Sanitário de
Apolônio Cidadão vem a público no domingo, 10 de julho, no mesmo dia em que
outros jornais publicam a carta Cruzada
contra a Hidra do Meretrício, escrita por Catarina. Como dinamites de
efeito retardatário, os textos explodem no Palácio do Catete, na manhã de
segunda-feira.
A
agenda presidencial sofre ajustes de última hora para se decidir como agir com
relação às publicações. Com Rodrigues Alves estão Theodoro, representante do
governo nas relações com a imprensa, Oswaldo Cruz, Diretor de Saúde, e Seabra, o
ministro da Justiça. Para Theodoro, Apolônio Cidadão quer desgastar o Governo
com bate-bocas sobre o falecimento do Custódio. Recomenda ignorar a provocação
do jornalista.
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Se não, exigirá explicações oficiais para qualquer falecimento.
Oswaldo
Cruz não gosta do parecer.
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Não posso me calar. Devo ratificar os fatos para que não haja dúvidas sobre a
probidade científica da ação.
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Pouco importa para a oposição a verdade dos fatos – e sim a versão criada. É o
que irá prevalecer a despeito de qualquer esclarecimento que possamos dar.
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Ficará que se enterrou um erro com o cadáver. Isso não é bom, pondera Seabra.
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Exato, exclama Cruz. Precisamos esclarecer a opinião pública e, em especial, a esse
jornalista que a morte por peste exige enterro célere para evitar o contágio.
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Pedirá em letras garrafais a necropsia para atestar a causa da morte.
Oswaldo
Cruz refuta a previsão.
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Não chegará a tamanho descalabro. Presumo que seja um homem de bem, antes de
ser um oponente do governo. Irá respeitar pelo menos a quietude do
sepultamento.
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Engana-se. Age conforme a conveniência de seus interesses. Inexiste, portanto,
a previsibilidade das ações.
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Há uma família em luto! Não concordará com esse comportamento malsão.
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Ou irá voltar a sua dor contra o governo num trabalho urdido pela oposição.
Querem render assunto e espalhar o medo à vacina.
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Senhor Presidente, acato o que for melhor para o Governo, mas não recomendo o
silêncio e me constrange não poder defender a nossa reputação.
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Possui meu compromisso com a vossa autonomia. Porém, como a batalha só começou,
aconselho a manter-se ocupado com vossas prioridades e não com agendas ditadas
pela má-fé.
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Fica o dito pelo não dito, senhor presidente?
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Não. Em razão da morte, recomendo um pronunciamento objetivo na voz do Dr.
Theodoro, que enfatizará os procedimentos cabíveis para o combate da peste. Com
a mesma objetividade responderá sobre esses Cruzados,
se for solicitado a falar. Frisará o compromisso do Governo Federal e Municipal
na regeneração material e moral de nossa Capital Federal e encerrará o assunto.
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Orientarei ambos os pronunciamentos, diz Oswaldo. Nossas ações de higiene visam
também combater os males do meretrício.
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Confio na sintonia dos senhores para cumprirem do melhor modo vossas missões.
Mãos à obra porque já dedicamos tempo suficiente à oposição.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
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