DA VACINA OBRIGATÓRIA
A
29 de junho, os parlamentares Duarte e Glicério apresentam no Senado o projeto
de lei da vacina obrigatória. O mar da polêmica se encrespa e os sinais de
tormenta propagam-se para fora da Casa do Povo.
Theodoro
analisa a repercussão pela imprensa. O jornalista Sertório de Castro defende a
medida de combate à varíola e enaltece o governo. Apregoa que o quadriênio de
Rodrigues Alves entrará para a história como o do renascimento nacional animado
pela grande sinfonia de trabalho e pelo sopro renovador cheio de audácia
americana e do mais atrevido espírito de iniciativa. Como toda sinfonia possui
um prelúdio, entende que a orquestrada pelo presidente prepara o meio de que o
brasileiro necessita para realizar a sua aspiração de ter um lugar dentro do
mundo civilizado. Enfatiza que, apenas após o remate dessa tremenda empreitada,
a Capital Federal poderá progredir e ataviar-se como uma mulher jovem e moderna
que pretende agradar e dominar. Pergunta ao leitor: “de que vale propagandear
os tesouros inesgotáveis do Brasil e convidar técnicos e o capital estrangeiro
para aqui operar se, para anular os convites e a propaganda, há a hidra de mil
cabeças que devora vidas humanas quando não lhes arma insidiosas ciladas? Nada
valem embelezamentos urbanos, novas posturas e obras, a menos que as epidemias
inclementes sejam sucumbidas e a vitória da saúde seja transmitida pelos fios
telegráficos em notícias que recuperem a reputação da Capital Federal no mundo
civilizado”. E termina o artigo com a sua expectativa de que o Congresso aprove
a vacina obrigatória, iniciativa indispensável para eliminar a varíola cujo
flagelo só suportam povos de cultura inferior servidos por maus governos.
Esse sujeito é bom,
compreende o espírito da reforma,
avalia Theodoro que passa a examinar a cobertura feita pelos jornais
opositores.
Gil
Vidal do Correio da Manhã critica o
projeto de lei e embasa sua opinião com a declaração do médico brasileiro
Platão de Albuquerque de que a vacina pode causar doenças, como cancro, sífilis
e tuberculose. “Haverá ainda quem quererá procurar para si ou para os entes
amados a morte ou a ruína da saúde? Recusai a vacinação, como um dos maiores
flagelos da humanidade” aconselha aos leitores o médico entrevistado.
Dimas
Gurgel do Alvorada expõe o parecer do
médico fluminense Vieira Souto: “na falta de garantias de que a evolução de
certos estados mórbidos não seja de responsabilidade direta da vacina, ocorre
logo aos espíritos imparciais que tal meio profilático não pode nem deve
revestir-se de caráter compulsório, restando a cada um a faculdade de usá-lo se
assim o entender. É o que aconselha o bom senso”.
Apolônio
Cidadão do Comércio do Brasil também
referenda a adoção do livre-arbítrio na questão. E vai além. Acusa o governo de
irresponsabilidade similar à dos médicos que advogam a profilaxia sem revelar
as dificuldades vividas pela medicina para atestar a eficácia e a segurança do
remédio. Em seguida apregoa que não cabe ao Estado legislar na esfera do pessoal.
“Tomar ou não a vacina é uma decisão de cada indivíduo. Atentem, cidadãos, para
os fatos: em nome da saúde pública, o Executivo e o Legislativo abusam do poder
para unir aquilo que levou séculos para separar: o poder espiritual do temporal.
A liberdade de escolha está ameaçada e a opressora intromissão do Governo na
vida familiar será consolidada”.
Theodoro
termina a leitura e procura o Diretor de Saúde.
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Precisamos de estatísticas para apoiar a
defesa da medida no Senado.
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Tenho alguns estudos. Posso mandar algum assistente coletar os números.
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Faça isso e me passe tão logo seja possível. Irei arranjar para que os números
apareçam em todos os jornais.
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