MORRA A LEI DA VACINA
O governo inaugura o primeiro trecho da
Avenida Central em solenidade que celebra também a independência do Brasil de
Portugal. Algumas gazetas parabenizam a entrega da via, outras criticam a
reforma. Apolônio Cidadão critica o embelezamento, que chama de cenografia cara
e alheia à penúria da população.
Os dias se sucedem. Listas de assinaturas
contra a obrigatoriedade da vacina circulam pela cidade e panfletos são
distribuídos à população. Na Câmara Federal, a oposição obstrui a votação da
Lei com intermináveis discussões. É aplaudida pela claquete arregimentada por
Correia e pelo CCO. Nesta manhã, a força policial está presente dentro e fora
da Casa do Povo, que ouve um assistente de Oswaldo Cruz.
-- A vacina é
indiscutivelmente o meio mais eficaz de premunir o individuo contra o ataque da
varíola. Porém é preciso elucidar aqueles que duvidam dessa eficácia e fazer
com que a convicção se arraigue no espírito de todos. -- Como elucidar se de
seguro só temos a intenção dos poderes públicos de transformar os brasileiros
em cobaia das experiências claudicantes e incertas da pseudociência oficial?
Coercitivamente, a Diretoria de Saúde manda aplicar na população as novidades
que surgem no mundo das titubeações bacteriológicas. Mais parece as moças, que
mudam os chapéus de acordo com as mudanças nas vitrines das lojas, declara
Barbosa Lima.
Integrantes das bancadas
vaiam e os das galerias aplaudem.
-- As medidas são frutos
de pesquisas seriíssimas, realizadas aqui e no exterior com quem trocamos
valiosas informações, atesta o orador.
-- Devem então indicar
que a imunização não é sempre acompanhada de excelentes resultados como
confirmam os registros de óbito.
-- Ao contrário, mostram
que os casos de infortúnio devem ser relevados à vista das reais vantagens
colhidas.
Varela brada.
-- Confirma então que a
população está sujeita ao risco de morte?
O silêncio se faz.
-- Confirmo apenas que
ninguém elimina da terapêutica os medicamentos como o ópio, o mercúrio e tantos
outros, porque tenham produzido acidentes, mesmo mortais.
-- Morra a lei da vacina, grita a galeria e
punhos rasgam o ar.
O presidente da Câmara pede ordem e Barbosa
Lima ocupa de novo a tribuna.
-- Espero a condescendência desta Casa para
com aqueles que o governo impõe a aprovação dessa temeridade. Mas queira ou não
queira o governo, a responsabilidade é da Câmara. Quem vai decretar o
despotismo é a Câmara, quem vai decretar a maior das abjeções para o povo é a
Câmara. Que esta Casa cumpra o seu dever se puder. Se não puder, a Câmara que
seja maldita!
Bancadas e galerias se digladiam em
xingamentos. Jornalistas deixam o recinto e a expressão maldita Câmara aparece na edição de 30 de setembro na primeira
página dos principais jornais da nação. Com a imprensa a favor da vacina
facultativa, a equipe do Comércio do
Brasil celebra o resultado.
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