sábado, 20 de junho de 2015

Capítulo Noventa e Três

MORRA A LEI DA VACINA


O governo inaugura o primeiro trecho da Avenida Central em solenidade que celebra também a independência do Brasil de Portugal. Algumas gazetas parabenizam a entrega da via, outras criticam a reforma. Apolônio Cidadão critica o embelezamento, que chama de cenografia cara e alheia à penúria da população.  
Os dias se sucedem. Listas de assinaturas contra a obrigatoriedade da vacina circulam pela cidade e panfletos são distribuídos à população. Na Câmara Federal, a oposição obstrui a votação da Lei com intermináveis discussões. É aplaudida pela claquete arregimentada por Correia e pelo CCO. Nesta manhã, a força policial está presente dentro e fora da Casa do Povo, que ouve um assistente de Oswaldo Cruz.
-- A vacina é indiscutivelmente o meio mais eficaz de premunir o individuo contra o ataque da varíola. Porém é preciso elucidar aqueles que duvidam dessa eficácia e fazer com que a convicção se arraigue no espírito de todos. -- Como elucidar se de seguro só temos a intenção dos poderes públicos de transformar os brasileiros em cobaia das experiências claudicantes e incertas da pseudociência oficial? Coercitivamente, a Diretoria de Saúde manda aplicar na população as novidades que surgem no mundo das titubeações bacteriológicas. Mais parece as moças, que mudam os chapéus de acordo com as mudanças nas vitrines das lojas, declara Barbosa Lima.
Integrantes das bancadas vaiam e os das galerias aplaudem.
-- As medidas são frutos de pesquisas seriíssimas, realizadas aqui e no exterior com quem trocamos valiosas informações, atesta o orador.
-- Devem então indicar que a imunização não é sempre acompanhada de excelentes resultados como confirmam os registros de óbito.
-- Ao contrário, mostram que os casos de infortúnio devem ser relevados à vista das reais vantagens colhidas.
Varela brada.
-- Confirma então que a população está sujeita ao risco de morte?
O silêncio se faz.
-- Confirmo apenas que ninguém elimina da terapêutica os medicamentos como o ópio, o mercúrio e tantos outros, porque tenham produzido acidentes, mesmo mortais.
-- Morra a lei da vacina, grita a galeria e punhos rasgam o ar.
O presidente da Câmara pede ordem e Barbosa Lima ocupa de novo a tribuna.
-- Espero a condescendência desta Casa para com aqueles que o governo impõe a aprovação dessa temeridade. Mas queira ou não queira o governo, a responsabilidade é da Câmara. Quem vai decretar o despotismo é a Câmara, quem vai decretar a maior das abjeções para o povo é a Câmara. Que esta Casa cumpra o seu dever se puder. Se não puder, a Câmara que seja maldita!
Bancadas e galerias se digladiam em xingamentos. Jornalistas deixam o recinto e a expressão maldita Câmara aparece na edição de 30 de setembro na primeira página dos principais jornais da nação. Com a imprensa a favor da vacina facultativa, a equipe do Comércio do Brasil celebra o resultado.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos


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