NO JARDIM BOTÂNICO
O
feriado de Finados termina e um bilhete de Grego chega ao casarão. Após
momentos de indecisão, Páscoa responde: terça-feira, 8h, Jardim Botânico.
Portão principal. Comparece ao
encontro.
Quietos,
o casal caminha por uma aleia de palmeiras imperiais. O ar é leve e fresco.
Páscoa contempla a amplitude verde desconhecida e mira um arvoredo distante. Grego
sugere que sigam para lá. Alcançam mangueiras de troncos fartos e trilham por
entre outros de copas frondosas que cortinam o céu. Galhos esparramados
entrelaçam-se nos vizinhos, como mãos que procuram não se separar. A
luminosidade suave e o cheiro de terra confortam, acalentam os sentidos.
Sentam-se num banco. Que preguiça de falar! Pelos dois, ficariam em silêncio,
ouvindo o frêmito das plantas e a cantiga da água. Mas o tempo urge.
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Preciso lhe falar e são temas desagradáveis.
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Mas antes me escuta. Fui rude com você. Perdão.
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É. Foi.
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Oh, Vida!
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Acontece.
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Diga tudo, sem receios.
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Tenho adiado meu pedido de separação. Esperado o melhor momento para falar com
o meu marido, mas vejo que essa ocasião nunca chega e não posso mais adiar o
que precisa ser feito. Quero que se proteja. Seria bom se pudesse viajar.
As
palavras são como um soco no estômago de Grego. É vergonhoso se imaginar em
carreira enquanto ela fica entregue à própria sorte. Deve pegar o timão dos
acontecimentos e defender essa criatura que tanto prazer lhe deu.
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Pode esperar um pouco mais?
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Por quê?
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Preciso de tempo para organizar a partida. Pegamos Sofia e sumimos daqui.
Páscoa
o contempla com dúvidas no olhar.
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Para onde iremos?
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Atenas. Lá poderei cuidar melhor de vocês.
A
mulher ainda imagina o mar, o navio, os três a caminho de outro destino... Mas
o coração aperta. Não é assim que quer essa possibilidade para si.
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Como acha que a sua família irá receber uma fugitiva com a filha?
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Não precisamos dar detalhes.
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A informação não atravessa o mar?
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Até lá vocês já farão parte da família.
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Crê que será feliz?
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É o que precisa ser feito.
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Será o melhor caminho?
O outro é cada
um seguir sozinho. Como dizer isso? -- Não vejo outra saída.
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Eu sim. Preciso enfrentar meu marido e sair do outro lado do que possa vir a me
acontecer. Quero a minha liberdade, ao preço que for.
A
resposta causa preocupação.
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Não terá a separação.
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Tenho que tentar. Não quero ser uma fugitiva.
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Pense que viverá uma vida nova.
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Mas sem poder retornar para cá nem desfrutar do que é meu por direito.
Grego
só apreende o sentido que pretere a sua ajuda, não o da liberdade ansiada.
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Falando assim não me dá outra saída senão cruzar os braços.
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Sinto por esse transtorno.
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Por favor, Páscoa, não sou eu que mereço preocupação.
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Espero que me entenda, mas não poderemos nos ver até tudo se resolver.
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O que Maria Luísa acha?
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Irá me ajudar e prometeu que o irmão também.
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Se seu marido a ameaçar, fuja para a casa da Glória e deixe seus amigos
resolverem a questão. Hoje mesmo me mudo para lá.
Apreensões
geram o silêncio e Grego rompe a sua imobilidade. Puxa Páscoa pela mão e a
abraça atrás de uma árvore. Beijos sôfregos se sucedem.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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