DESNUDAMENTO E GOZO
Grego a vê entrar,
bela, ofegante e sozinha. Tem certeza que a possuirá.
-- Vida, que bom que
veio.
Páscoa sorri, com o
coração quase a sair pela boca. Encosta-se à porta, fechando-a atrás de si, e
espera aquele que se aproxima descalço, com calça e camisa de tecido mole e com
o semblante banhado de sedução.
Rosto a rosto, Grego
lhe diz para ficar à vontade, mas não sai do lugar. Já seus olhos passeiam pela face, pelos
lábios, pelos olhos dela.
No espaço reduzido, o
chapéu é tirado e posto no cabideiro, ali mesmo, ao lado da porta. Depois é a
vez da bolsa, que também vai fazer companhia ao chapéu.
-- Deixe-me ajudá-la a
tirar a capa.
Páscoa lhe dá as costas
e abaixa a cabeça para desfazer o laço que prende o manto. Impossível a Grego
deixar intocável a exterioridade alva que se revela. Corre um dedo pela nuca –
a pele arrepia, uma respiração profunda ocorre e o peito crepita o ardor.
A capa é retirada e
pendurada no cabideiro.
Há então o afago, que
contorna a face.
-- Está mais bela!
O toque evoluiu sobre a
boca, que roça ora a palma, ora o dorso da mão, deixando um rastro quente na
pele.
-- Solta os cabelos,
pede e saboreia o pedido atendido primeiro nos olhos escuros e depois na
liberdade farta e longa que rola pelos ombros abaixo. Cola-se em Páscoa e ela à
porta. Baque, tremor, sofreguidão.
Finalmente os corpos se
abraçam e arfam em uníssono, como no banho de mar. Reconhecem o calor, o cheiro
um do outro e se estreitam no saciamento do desejo há tanto refreado. Os
ventres sentem e assentem-se: um pressiona o outro, que se ergue sob o impulso
da ponta dos pés. Os sexos se encaixam. Sangues acumulam, esquentam. O pênis
aprisionado em protuberância delicia sobre a natureza encoberta que formiga de
prazer. Os lábios se possuem, as línguas se conjugam e as sensações os tragam
para dentro do sublime. A mulher sente a eternidade, o homem, o paraíso – e o
beijo se espalha pelas faces, pelos pescoços, e se renova nas bocas.
Acalorado, Grego retira
a camisa, e o peito se apresenta. É cruel de tão bem-feito. Exige do pudor
reserva para ser tocado. De olhos fechados, Páscoa desliza a mão sobre o relevo
aconchegante, alcança um ombro e, pelo pescoço, o cola de novo nela. Inebria-se
com o odor e o despudor alheio. Dá-lhe a boca em outro beijo e se compraz com
os seus seios acariciados até que a mão afagante os quer nus.
Febris de mais
volúpias, os lábios se separam. Grego desabotoa os botões da blusa e faz a
roupa escorregar pelos ombros. Páscoa move um braço, o outro, mirando-o com
olhos brilhando o decoro estonteado.
Fecho aberto, a saia é
puxada até o chão. O corpo se expõe sob a branca roupa íntima. Pés são descalçados.
Para a excitação sentida com o desnudamento, há ainda a de saber que a
consumação da transgressão está por um triz.
Roupa, botas e meias
são afastadas e Grego admira o que se exibe.
Os cabelos são como
ramagens negras escorridas entre os braços que se serpenteiam sobre a madeira
da porta e é uma perdição a nesga à vista dos seios colhidos pelos bojos do
arquejante espartilho, que modela a silhueta em curva como a de um violoncelo.
A barriga é um leve suspiro sob a calçola, que amplia o mistério do sexo oculto
e encobre as longitudes roliças, onde uma perna pudica se arqueia levemente
sobre a outra, movida pelo constrangimento da exposição inaugural.
Grego a abraça. Entre
beijos e resfôlegos, tateia a carne tenra, que estremece ao ter o sexo
apalpado. Páscoa afunda o rosto no peito dele, que enlaça seus cabelos e
pressiona para traz a crina formada. A volúpia se estampa na fronte erguida
pela pressão, sob o bafejo do desejo confessado.
-- Quero você.
A alma feminina exulta
e propaga pelo corpo inteiro o gozo de tão arrebatadora sonoridade. Os cabelos
pendem novamente livres. Páscoa se vira e apoia a testa nos braços cruzados
sobre a porta, deixando o caminho aberto à continuidade do seu desnudamento.
Ali se delicia com os beijos sobre seus ombros, sua nuca, e mais fruições se
sucedem durante o desmanchar do ziguezagueante cadarço do espartilho.
Liberada, a roupa tomba
no chão da mão de Grego extasiado com a seminudez. Páscoa se desvira, com os
braços cruzados sobre o busto. O pudor aumenta a excitação.
-- Não os esconda.
Os seios se revelam
-- Lindos.
Pela cintura, a traz
para o seu corpo. Beija-a, acariciando um seio, depois o outro e, na
alternância dos afagos, do deleite criado, corre a mão por dentro da calçola. A
terra treme outra vez e Páscoa colhe o rosto do amante. Quer reter na memória a
luz do seu olhar para clarear o escuro que pode advir da transgressão em curso.
Defronta o pedido:
-- Deixa! Você vai
gostar.
Joga a cabeça para
traz, com um sorriso, e não lhe conta o que se passou naquela instante em que a
razão boiou a consciência entorpecida. Encosta-se à porta, entregue ao gostar
acenado e divisor das águas do seu destino.
Grego entende o sinal
para ir em frente e retira a calçola. Eletriza-se diante da ocultação final.
Recobre-a com a mão espalmada e a pressiona, engolfado pela gula de tê-la na
boca, possui-la com a língua, inundá-la de gozo. Mas apenas afasta as bordas
carnudas, explora a maciez quente e úmida e mergulha o dedo no mistério
profundo.
É tudo muito para
Páscoa. Jamais foi tocada assim pelo marido e, por mais que queira afagar o
parceiro, é tão intenso o prazer sentido que só consegue afastar as pernas e
dar-lhe espaço para melhor se aventurar nesse desbravamento. Que se delicie com
o seu sexo; que extraia dele o que lhe apetece, que a deixe cada vez mais ébria
de prazer.
Sente a carícia se
concentrar num ponto único de carne e se torna a correnteza da própria excitação crescente. Move o quadril, de um lado para o outro. Às vezes
o ergue, como uma vaga que se levanta; outras, o recua, como as ondas quando
voltam para o mar. Grego sorve o deleite que estimula e ancora com a sua mão.
Então acontece. O rosto da amante desassossega-se de vez. O ventre fica mais
furioso, a respiração, ofegante... E, num crescendo, o orgasmo explode ao som
forte dos gemidos. Coração acelerado, pernas enfraquecidas, Páscoa se lança aos
braços dele, querendo ser penetrada por completo. Grego a ergue no colo e a
leva para a cama, onde a possui.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright
de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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