terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Capítulo Cinquenta e Seis

O QUE FAZER?


Nova semana começa. Correntezas esparsas de azul já atravessam o lençol bordado por Páscoa. Um recado de Grego lhe chega pelas mãos de Azulão: Preciso lhe falar; quando pode ser? O coração constrito bate descompassado: tristeza e alegria ecoam pedidos opostos – e a negação do desejo triunfa. O bilhete sem resposta é jogado às chamas do fogão. 
Pasmo à porta da casa do Leme. Azulão aparece de mãos vazias diante de Grego e também não lhe diz o que quer ouvir. O menino vai para a marcenaria, onde pega um violino e se põe a praticar. Inconformado, Grego volta ao trabalho. Com um formão entalha delicadamente o dorso de um violino. Fios de madeira se desprendem da peça trabalhada, como os pensamentos, que se enrolam na mente. Sente-se mal com a sua reação na casa da Glória. A criatura não merecia. Mas o que eu podia fazer? Melhor deixar tudo como está. Que enrascada me meti!
Sem a atenção que gostaria de ter, Azulão desafina.
-- Opa!
-- Acho melhor seguir com a minha flauta, que já sei tocar.
-- Deixa disso. Tô atento. Repete o movimento.
-- Tá nada. Volto aqui pra semana.
-- Mas antes de ir para lá.
Azulão sai. Grego ainda tenta trabalhar um pouco mais, mas desiste. Deixa a ferramenta sobre a mesa, passa a mão nos cabelos: Vida, o que faço com você?

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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