DOS RETRATOS TIRADOS
-- Por favor, aguardem, é só um minuto, estamos
fotografando as obras, diz o assistente do fotógrafo.
A curiosidade se acende em Sofia. Liberados,
permanecem ante a insistência da pequena em ver o trabalho. O fotógrafo se
encanta com a menina e puxa conversa. Conta que já fotografou o lugar antes do
início das demolições e que o fotografará também depois, quando terminar a
reforma da avenida.
-- Tudo em nome da história – é a eternidade da
vida.
Que bonito!
Pensam todos.
Sofia fala que o que mais quer na vida é ter um
retrato com a mãe. A declaração comove o fotógrafo, que se prontifica a atender
o desejo. Páscoa hesita, Grego não.
-- Ficarei muito contente em lhes dar este presente.
-- Obrigada. O senhor é muito gentil.
Acomoda-se do lado de Sofia. Um, dois, três... E a
foto é tirada. O fotógrafo se inteira das expectativas alheias.
-- Mais uma?
Páscoa olha para Grego. A generosidade se expressa
novamente.
-- Como quer o retrato?
-- Venha, Quitéria, vamos tirar uma de nós três.
A foto é tirada, com a ama empombada de
satisfação. O fotógrafo sonda outra
expectativa percebida.
-- E o senhor, não irá posar?
Olhares
cheios de indagações convergem do indagador para Grego.
-- Agradeço, mas o que acha de uma só da senhora?
Olhares se voltam para Páscoa, que posa com o melhor
de si. Sofia acha que a mãe está linda, Quitéria, que exala a felicidade do perigo
e Grego deseja a foto para si.
O fotógrafo estende seu cartão.
-- Espero o senhor na quarta-feira. Isso se o meu
ateliê ainda estiver de pé
Há risadas, despedidas, o caminhar até o ponto do
bonde e a chegada do carro.
-- Passar bem, diz Quitéria.
-- A senhora também, responde Grego, que a ajuda
subir no bonde.
Sofia, já de pé no estribo, o lembra das
fotografias.
-- Não esqueça de pegar os retratos, tá bom?
Páscoa se antecipa a resposta.
-- Um mensageiro fará a entrega; agora se acomode.
Volta-se para Grego, apoia-se na sua mão e sobe.
Sentada, seus olhos alcançam os dele e são banhados pela luminosidade de um
sorriso cheio de promessas. Enxerga neles o dom alheio para bem viver as
diversas circunstâncias da vida. Com os dois assim, a se fitarem, o bonde
parte.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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