terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Capítulo Vinte e Um

DE NOVO, A MELANCOLIA

Horas, luz e calor sobram nos próximos dias. As chuvas rápidas e pesadas trazem algum refresco, mas logo o desassossego volta a grudar no corpo de Páscoa. A reluzente e bem-aventurada sensação de fusão com a vida se esvaiu e o vazio deixado por Grego a atormenta, com o pensamento de que sua ausência terá de ser para sempre. O corpo sente, ressente-se, lateja a dor do que não pode ser.
       Os passeios se restringem à praia do arraial, em um exercício de força, no qual Páscoa impulsiona o corpo modorrento pelo cenário onde transitou tão feliz. Esforça-se por atender às demandas de Sofia. Para compensar tudo o que não lhe deu. Para ajudar a si mesma a carregar a vergonha que sente de se ver às voltas com outro mal-estar. Depois borda, borda muito, numa tentativa de enfrentar sua inadequação de viver com a beleza que consegue criar. Com alívio vê a noite chegar, para desfrutar do silêncio consentido por todos. O sobrado no escuro, recosta-se na poltrona, diante da janela aberta do quarto e fica lá, quieta com a sua dor. Sente-se acolhida pelo negro-roxo do céu e consolada pela lua, que surge mais tarde a cada noite e, como ela, também mingua em novo ciclo de um destino nulo. Resigna-se aos estrondos raivosos das vagas que arrebentam nas pedras do mar. A tormenta passará. Crê. Filha das sensações e sentidos, vive e sobrevive à sua sina, a cada vigília noturna. 


Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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