O RIO CIVILIZA-SE
Valentin ouve Catarina tocar,
falante ao piano.
-- Reconhece o andamento?
-- Um allegro ma non tropo com um
quê de polca.
-- Isso mesmo. Observe agora. Vou
temperar: quebrar e encadear o ritmo... Percebe o momento para o volteio do
corpo?
-- Quente e lépido.
-- Isto é o maxixe, invenção
nacional. Imagine a viola, tocada em conjunto e terá uma melodia...
-- Eletrizante.
Theodoro chega. À porta observa a
desenvoltura da mulher e a rebeldia do amigo, que se evidencia na informalidade
da roupa. Apruma o melhor de si e une-se a eles.
-- Que bonito, Dona Catarina!
-- Ah, Theo! Estamos em casa!
-- À mercê da escuta dos criados
de que nos divertimos com esse ritmo menor.
-- Menor?
-- O Rio civiliza-se, meu amigo,
e civilização não combina com maxixe, esclarece enquanto abre um champanhe.
-- Não me diga!
-- Regenerar tudo – dos ritmos
aos costumes – é a ordem dos novos tempos.
-- Será preciso? A música soa tão
brasileira.
-- O sentimento é. Mas precisamos
nos inspirar na imaginação europeia.
-- Pois sim!
A rolha escapole da garrafa.
Catarina aplaude.
-- Viva!
Theodoro serve as taças e as
estende para cada um.
-- A 1904!
-- À felicidade de vocês!
Brindam e se acomodam nas
poltronas.
-- Que tal darmos uma volta
amanhã pelo cenário da reurbanização?
-- Ótimo. Poderei entender melhor
o trabalho no local.
Catarina ergue a taça.
-- Aos homens que ousam desafiar
o passado para construir o futuro.
-- A você, minha grande mulher!
O hóspede apreende a felicidade
do casal enquanto endossa o brinde.
Copyright © 2013
by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright
de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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