DA VIAGEM INESPERADA
Valentin só retorna ao
interior do solar quando o casal comemora o sucesso do sarau na sala de estar.
Josefa entrega uma correspondência para o patrão, que a lê.
-- Onde está o
mensageiro?
-- No terraço em frente.
Theodoro caminha em
direção da biblioteca. Preocupada, Catarina o segue.
-- O que foi?
-- Veja você mesma.
Recebe a correspondência
e se inteira da mensagem enquanto anda.
-- Ah, não! Como pode ir
para Petrópolis agora?
-- Com o trem que sairá
para lá.
-- Óbvio, mas em pleno
feriado de carnaval.
O marido a interrompe.
-- Providencie minha
mala. Conjunto para três ou quatro dias.
-- Tudo isso?
-- Posso responder o
recado?
Catarina deixa a
biblioteca, confusa. Valentin se aproxima.
-- O que aconteceu?
-- Theodoro deve se unir
a uma comitiva para negociar interesses do governo em Petrópolis. Josefa,
venha.
-- Não devo aguardar o
patrão?
-- Deve. Suba tão logo
tenha entregado a resposta ao mensageiro.
Retira-se perplexa com
esse inesperado que cria a oportunidade para converter intenções em ações. É coisa da providência. Porém, se as
circunstâncias são favoráveis para realizar o que precisa ser feito, não sabe
se terá coragem suficiente para ajudar a circunstância a agir a seu favor.
Acaricia o pingente: Nossa senhora, me
ilumine.
Valentin também pensa em
como ocupar o tempo durante a ausência de Theodoro. Aproxima-se da janela e
avista o mensageiro: um garoto esbaforido que tenta afrouxar o rígido colarinho
de um uniforme indecifrável. Entra na biblioteca e encontra o amigo de pé com
ar tenso.
-- Problemas?
-- Pelo visto, sim. Terei
de ir para Petrópolis.
-- É confidencial ou
posso saber o que aconteceu?
-- Claro que pode, mas a
mensagem é lacônica. Temo ser algo relacionado com as demolições.
-- Já vão ocorrer?
-- As da Avenida Central
e lá é uma boa vitrine para a oposição montar uma reação qualquer.
Valentin disfarça a
satisfação em ter alertado para essa possibilidade.
-- Não li a respeito.
-- A imprensa ainda não
foi comunicada. Porém, a informação pode ter vazado... Enfim, seja o que for, é
grave para a decisão ter de passar pelo crivo do presidente.
-- Está em Petrópolis?
-- Sim. Por favor, evite
a cidade nesses próximos dias e olhe Catarina para mim.
-- Fique tranquilo.
-- É bom poder contar com
você.
Theodoro sai. Pouco tempo
depois, abraça a mulher no quarto.
-- Logo estarei de volta.
-- Nunca te esqueças de
que vivo para te fazer feliz.
-- Eu sei. Agora venha,
acompanhe-me até o coche.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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