quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Capítulo Trinta e Nove

VÉSPERA DE CINZAS


Em disparada, Valentin cavalga. Imagens da amada surgem e lhe impõem lembranças ora de lânguidos e deliciosos ardores, ora de extáticos e cruéis tormentos. Adentra o labirinto da boemia da cidade. Deixa o cavalo numa estalagem e atravessa o mundo de gente na rua. Soadas de cantorias e cornetas misturam-se ao burburinho de vozes e risos. Entra num bar onde músicos tocam animadamente para uma festiva clientela que reúne remelexos dispostos a acolher corações solitários. Bebe até que responde aos chamegos de uma dadivosa, que, com fitas coloridas nos cabelos, balança suas ancas com volteios que fazem tremular também os fartos seios. Lança-se a esse oferecimento.
Ao ritmo dos zabumbas, uma multidão vibrante, suada e ondeante transborda uma rua com gingas sensuais e febril cantoria: “ó abre alas que eu quero passar! Eu sou da Lira não posso negar”. Valentin já está aí, afogado nesse mar humano que canta e dança os últimos minutos do Carnaval. Move-se, como num transe e em cadências que remetem seu entorpecido pensamento para aquela que na noite anterior beijava seus lábios e o possuía com a mais ardente paixão. A exuberante dadivosa de fitas coloridas no cabelo continua ao seu lado.
Lá no solar, Catarina acorda com a penetração impetuosa de Theodoro em seu corpo. Sente-se contrariada em ser possuída enquanto dormia como se fosse uma somenos; sente-se também confusa com a mistura de fluidos que resultará dessa posse em seu ventre. Desliza de um extremo ao outro, ao se dar conta de quão providencial é essa mistura: encobrirá possíveis consequências da sua comunhão ilícita. Beija o rosto de Theodoro, afaga seus cabelos, sussurra saudades, desliza suas mãos pelas costas até as nádegas e as pressiona para dentro dela: -- Dê-me tudo, tudo, meu amor.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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