sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Capítulo Dezesseis

DO CARTÃO POSTAL


Hóspede e anfitriões aparecem na esquina da comprida e estreita Avenida Central, movimentada pelo fim do dia. Imóveis em precárias condições de manutenção ladeiam a via. Pela porta aberta de uma oficina, Valentin observa o interior, onde um alfaiate negro costura: proprietário? Theodoro explica a futura paisagem.
-- De uma ponta a outra, tudo será demolido. E, na extremidade sul, baterá o novo coração da cidade. Será o cartão postal do Rio, com jardins, biblioteca, teatro e o melhor da arquitetura francesa. Vamos até lá e mostrarei onde faremos as obras.
Valentin pensa na população a ser despejada.
-- Essa gente poderá instalar de novo seu comércio aqui?
-- Se tiverem condições, sim.
-- Caso não, aceitarão a perda do espaço?
-- O nosso povo é cordato – e tudo será feito com base na lei.
-- Que irá agravar as condições de vida de muitos.
-- Impossível fazer diferente. O atraso e a decadência precisam ser removidos. E é o que quero que fotografe.
Catarina preocupa-se com a abordagem direta do marido e com os comentários de Valentin. O fim do encontro amplia sua preocupação. O amigo decide ficar mais um pouco na cidade. Despedem-se e o casal parte no coche conduzido por Abdias. 
-- Esse é o incorrigível Valentin. Foge se as coisas não são como quer.
-- Mas o que fará? Quem poderá visitar?
-- Ninguém e sim se enroscar em algum mafuá. Adora tudo o que é popular.
-- Receio a voz do povo. Pode constrangê-lo. 
-- O trabalho terá de ser feito nas ruas. Melhor ouvir tudo de uma vez.
-- E se recusar o convite, não será ruim para você?
-- Não se preocupe. Daremos um jeito de ajudá-lo a resolver suas questões.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos

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