DO DESEMBARQUE
Valentin fotografa do convés a sucessão de paisagens
descortinadas pela evolução do vapor: captura a amplidão do arraial de
Copacabana e do areal do Leme costeada pelos morros; registra o sobranceiro
rochedo que abriga o forte São João; eterniza a orla da enseada de Botafogo com
seus casarões e depois a cidade velha de São Sebastião do Rio de Janeiro
adensada entre encostas e revolta pelas agudas e amarronzadas cumeeiras de seus
casarios. Janelas de púlpito e de parapeito, com verga de pedra e guarda-corpo
de ferro ou de treliça de madeira, salpicam esse adensamento de alturas
vencidas ali e acolá por torres e sineiras de igreja.
Ao som do rouco apito, o moderno navio ancora nas
proximidades da Ilha Fiscal. Por causa do calado raso do mar do cais Pharoux,
os vapores de passageiros ancoram-se nas imediações daquela Ilha e os
cargueiros nas águas adjacentes, mais adiante. Logo têm início os serviços de
saúde e de alfândega, o ir e vir dos carregadores e a movimentação dos
passageiros, desejosos de pisar novamente em terra firme.
Livre dos procedimentos de desembarque, Valentin
acomoda-se em um ferry-boat que,
minutos depois, singra as últimas águas, ladeado por chatas e saveiros que
fazem o transbordo de bagagens e mercadorias. A brisa e o cheiro do mar o
impregnam de bem-estar, enquanto contempla a cidade cada vez mais próxima. A
embarcação lança suas cordas e se atraca no cais. Ocorre o desembarque final.
O saudoso brasileiro se move. Pela alça carrega em
um ombro uma sacola de viagem e, no outro, a caixa de couro que envolve sua
máquina fotográfica. Com esquiva paciência, sobe a escada em direção ao
descampado do Pharoux. Desvia-se de buscas ansiosas e de alegres reencontros e
avista Catarina. O sorriso dela se abre, a mão se ergue e desenha um volvente
meio círculo no ar. O corpo desloca-se – e Valentin admira a leveza que vem ao
seu encontro. Acha que a idade lhe fez bem: está
ainda mais bela. Colhe as mãos, que se lhe estendem e admira o olhar
brilhante.
-- Como vai?
-- Que bom estar conosco!
-- Ora, ora, o bom filho a casa retorna.
É Theodoro quem saúda. Chegou durante o deslocamento
da mulher e a tempo de compartilhar o instante do reencontro. Por ser menor do
que o amigo, o anfitrião o envolve num rápido, porém efusivo abraço.
-- Fez boa viagem?
-- Sem contratempo algum.
-- Ótimo! Já pegou as bagagens?
-- Ainda não.
-- Dê-me os tickets. Abdias cuidará disso enquanto
aguardamos no restaurante.
Nesse espaço sucedem-se os minutos seguintes do
reencontro.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de
adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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