domingo, 11 de janeiro de 2015

Capítulo Sete

DO DESEMBARQUE


Valentin fotografa do convés a sucessão de paisagens descortinadas pela evolução do vapor: captura a amplidão do arraial de Copacabana e do areal do Leme costeada pelos morros; registra o sobranceiro rochedo que abriga o forte São João; eterniza a orla da enseada de Botafogo com seus casarões e depois a cidade velha de São Sebastião do Rio de Janeiro adensada entre encostas e revolta pelas agudas e amarronzadas cumeeiras de seus casarios. Janelas de púlpito e de parapeito, com verga de pedra e guarda-corpo de ferro ou de treliça de madeira, salpicam esse adensamento de alturas vencidas ali e acolá por torres e sineiras de igreja.
Ao som do rouco apito, o moderno navio ancora nas proximidades da Ilha Fiscal. Por causa do calado raso do mar do cais Pharoux, os vapores de passageiros ancoram-se nas imediações daquela Ilha e os cargueiros nas águas adjacentes, mais adiante. Logo têm início os serviços de saúde e de alfândega, o ir e vir dos carregadores e a movimentação dos passageiros, desejosos de pisar novamente em terra firme.
Livre dos procedimentos de desembarque, Valentin acomoda-se em um ferry-boat que, minutos depois, singra as últimas águas, ladeado por chatas e saveiros que fazem o transbordo de bagagens e mercadorias. A brisa e o cheiro do mar o impregnam de bem-estar, enquanto contempla a cidade cada vez mais próxima. A embarcação lança suas cordas e se atraca no cais. Ocorre o desembarque final.
O saudoso brasileiro se move. Pela alça carrega em um ombro uma sacola de viagem e, no outro, a caixa de couro que envolve sua máquina fotográfica. Com esquiva paciência, sobe a escada em direção ao descampado do Pharoux. Desvia-se de buscas ansiosas e de alegres reencontros e avista Catarina. O sorriso dela se abre, a mão se ergue e desenha um volvente meio círculo no ar. O corpo desloca-se – e Valentin admira a leveza que vem ao seu encontro. Acha que a idade lhe fez bem: está ainda mais bela. Colhe as mãos, que se lhe estendem e admira o olhar brilhante.
-- Como vai?
-- Que bom estar conosco!
-- Ora, ora, o bom filho a casa retorna.
É Theodoro quem saúda. Chegou durante o deslocamento da mulher e a tempo de compartilhar o instante do reencontro. Por ser menor do que o amigo, o anfitrião o envolve num rápido, porém efusivo abraço.
-- Fez boa viagem?
-- Sem contratempo algum.
-- Ótimo! Já pegou as bagagens?
-- Ainda não.
-- Dê-me os tickets. Abdias cuidará disso enquanto aguardamos no restaurante.
Nesse espaço sucedem-se os minutos seguintes do reencontro.

Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos


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