NO CÉU AZUL DO IDEAL
Valentin retorna à Kosmos, mas não
encontra Munhoz nem Bilac. Deixa novo recado e aguarda, cheio de expectativas
de que o texto lhe abra perspectivas de defender suas ideias para o progresso
do Brasil. Imagina a realização de um debate sobre o futuro da nação, a redação
de um manifesto em prol da educação do povo e uma solenidade para a entrega do
documento ao governo. Vislumbra também a possibilidade de ser convidado a
participar do conselho editorial da revista, de voltar a morar na cidade, de
realizar reportagens fotográficas sobre as vastas regiões do país. Pensa até em
voltar a pintar. Como um dirigível, voa nas alturas do céu azul de seus ideais
e sonha com realizações consistentes com a verdade que reconhece no seu artigo
e em suas fotografias. Delira levado pelo tapete mágico de seus desejos de
reconhecimento. Mas nada. Nenhuma resposta chega. Espera alguns dias e volta à
redação.
-- O senhor está sem sorte, diz o
atendente. Dr. Bilac não vem hoje e o Dr. Munhoz acabou de sair, sem horário
para voltar.
A situação no solar também não lhe
é animadora. Ninguém fala sobre o artigo e as referências às fotografias são
efêmeras. Versam em como apresentá-las no sarau e com o mesmo peso dado à
escolha das flores que devem decorar o ambiente para a ocasião. Às vezes,
breves comentários sobre a viagem para a Amazônia são feitos. Variações que
repetem cuidados à selva, apoios possíveis e o calendário das cheias que
dificultam a navegação e impedem os anfitriões de desfrutar da companhia do
hóspede um pouco mais. Como neste instante em que Theodoro se lastima da
partida próxima e paga os serviços fotográficos. Se antes Valentin resistiu ao
trabalho, agora não sabe como se desligar dele. Mas é um alvoroço de orgulho
ferido para questionar como fica o pedido de contribuir para a criação do plano
habitacional e passar o recebido da sua decepção. Bloqueada, a energia dos
desejos irrealizados, dos sonhos desfeitos, das realizações impedidas,
pressiona o corpo. O vício brada e Valentin parte para os labirintos da cidade
onde procura ópio para sedar seu mal-estar.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e TV © 2005
by Maria Tereza O. S. Campos
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