DEPOIS DA NOITE ORIENTAL
Catarina
fecha a porta da casa de hóspede, com a coroa-trança desgrenhada. Os olhos a
meia pálpebra avistam Vênus que parece ampliar e voltar o tamanho conforme
reluz no céu pálido. Os lábios se espicham num sorriso de volúpias combalidas e
o ser agradece às forças celestiais a proteção noturna. Mira o jardim e o sente
comprido, uma estupidez de tão grande. Concentra-se e se lança adiante num
cambaleante ziguezague. No quarto,
joga-se sobre o leito e dorme de vez.
No
meio da tarde, acorda. Sente-se zonza, sem forças. Deixar a cama? É um esforço
enorme. Tirar a roupa e vestir o robe? Uma dificuldade maior. Da mesma forma, é
um trabalho gigantesco abrir as janelas. A claridade cega. Catarina se afasta e
deixa-se cair em uma poltrona.
Com
grande alívio, vê entrar Josefa com a bandeja do café. Observam-se, sem se
falar. Catarina toma goles e mais goles de água e come pedaços de melancias que
refrescam o corpo. Arrasta-se para o banho e se deita na banheira. Que prazer
molhar a cabeça. Ali, em olhos que se abrem e se fecham, destrincha a ilícita
comunhão conjugal.
Inesquecível minha noite oriental. Muito além
do necessário para conceber. Mas na justa medida do meu excesso de ser. Quanta
delicadeza! E que ardor! Como posso amar o corpo de dois homens? Sou abençoada.
Pude escolher um raro entre raros para me casar e um inconfundível para me
fecundar – não me abandone, minha Estrela-guia. Deu-me tanto. Faça a obra
completa. E me ajude também a afastar Valentin. Não posso me desembestar de vez
num gozo vândalo, à deriva no mar do meu desejo de ser mãe. Devo voltar ao meu
reino de terras plantadas e jardinadas. Amarei você para sempre, meu puro
Valentin, e desejo a graça de carregar a sua semente. Theo será um excelente
pai. Dará leme e arpéu ao nosso filho ou escunas belas e poderosas para nossa
filha. Adeus, meu querido, pensa e submerge.
Os cabelos boiam e emolduram o rosto imerso na água.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
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