EM NOME DO DESEJO
Um telegrama chega para Valentin. Minutos de
hesitação se sucedem com o pequeno envelope na mão de Catarina, receosa de que
a mensagem estimule o amigo a partir mais cedo.
Intercepta-o. É por uma boa causa,
justifica para si a sua transgressão.
No domingo, os pais de Theodoro passam o dia no
solar. Estão de partida para uma longa temporada no exterior. Serão hóspedes
dos padrinhos da nora que atualmente moram em Londres. Em seguida, o casal irá
para Paris e, mais tarde, para Lisboa, onde permanecerão à espera do nascimento
de mais um neto. Valentin comenta sobre o crescimento da família. O silêncio
pesa. Afinal, reza a etiqueta que assuntos sobre gestação devem ser evitados
até mesmo para saber se a grávida passa bem e essa é uma residência não
abençoada pela maternidade. Heliodora, mãe de Theodoro, intervém e muda o
assunto da conversa para os preparativos do sarau.
Gafe percebida, Valentin se pergunta a razão de
Catarina não ter filhos. Será que tem
problemas para engravidar? Enternece com a possibilidade pôr no mundo uma
criança e da sorte não lhe sorrir.
Pensa também em Theodoro, nos sentimentos que um homem vaidoso como ele deve ter
com relação à paternidade não realizada. Em meio dos seus devaneios, é chamado
para contar sobre suas viagens. Causa estranhamento com seus elogios às belezas
dos países exóticos visitados, sobretudo em Heliodora.
-- Nada pode ser mais belo do que as paisagens da
civilizada Europa.
Assim o domingo transcorre.
Na cama, aconchegada em Theodoro de olhos fechados,
Catarina pede:
-- Vamos ao mar, Theo?
-- Rainha!
-- Podemos ir com Valentin. A três não é prescrição
médica.
-- Já decidimos sobre isso.
-- O que os outros podem dizer? Que somos modernos!
E não somos?
-- Não insista.
-- Theo, por favor.
-- Psiu! Quietinha.
Com a recusa do marido, Catarina se sente liberada a
fazer suas próprias regras, caso o final do mês lhe mostre a necessidade de se
banhar no mar.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
Copyright de adaptação para Cinema e
TV © 2005 by Maria Tereza O. S. Campos
Nenhum comentário:
Postar um comentário