CONFISSÕES
Meu querido! Ainda bem que te tenho para falar o que não digo para
ninguém. Há três dias, Valentin anda afastado de nós, por causa de desavenças
com relação às prioridades da reforma. Theodoro o tem evitado para lhe dar
tempo de amadurecer melhor a questão. Por prudência, escondi outro telegrama
que chegou. Você dirá: não é certo o que faz. Mas tenho bons motivos. E D.
Fidalga jamais passaria telegramas para o filho, e sim lhe enviaria uma carta.
Eliminada a preocupação materna, tudo o mais deve esperar, como eu espero.
Tenho grandes expectativas este mês. Mas até ter certeza, preciso de Valentin
por perto. Seria mais imperdoável contratar um banhista profissional para me
levar ao mar que pedir um amigo, em quem Theo confia. Não ser abençoada com a
maternidade, é ser uma mulher pela metade, marcada como um escravo – lá vai
aquela do ventre estéril. Ah, que horror. Vamos deixar esse tema de lado, que
desafia minhas forças. Melhor: vamos deixar de tanto falatório. E Theo que
ainda está a trabalhar! Nem veio jantar. Bom vou ver como anda meu reino. Até.
Eu.
Copyright © 2013 by Maria Tereza O. S. Campos
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